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quinta-feira, 23 de junho de 2011

VIDA INTERIOR


                Tão necessário quanto a alimentação para uma existência saudável, o cultivo da reflexão, da oração e da meditação torna-se de relevância. A primeira atende às células físicas e o outro àquelas que são de ordem psíquica, geradoras da organização material. Em a vibração harmônica, procedente do psiquismo, o campo no qual se desenvolvem as de constituição condensada desequilibra-se e, por conseqüência, a distonia na forma prejudica a realização da modelagem no exterior.
                O oxigênio mantém o corpo, a onda mental sustenta a vida. Indispensáveis, ambos, para o ser em equilíbrio, nem sempre são utilizados, esses recursos, com a sabedoria que conduz à dosagem própria. Alguns indivíduos, compreendendo a necessidade de uma respiração bem orientada, buscam esportes e espairecimentos ao ar livre, descuidando-se da vida interior ou abandonando outros compromissos que constituem imperativo básico para o seu real crescimento. Outros, tomados pelo entusiasmo e encantamento do bem-estar que fruem mediante o exercício de interiorização, descuidam-se dos relacionamentos humanos e isolam-se, criando fatores dissolventes na área do comportamento, que levam ao egoísmo, à falta de solidariedade edificante no mundo social.
                A vida interior bem direcionada ensina a criatura a aceitar-se como é, sem desejar imitar modelos transitórios das glórias momentâneas, que brilham sob os focos das lâmpadas da ilusão; mas também a não ambicionar parecer-se com outrem, cujas características são belas nele e não em quem as aspira. Ser autêntico em si mesmo, auto-amar-se, sem derrapar nas ambições acumuladoras inspiradas pelo egoísmo, nem supor-se melhor do que os demais, constitui uma vitória sobre os conflitos e os complexos que atormentam e facultam a desvalorização da pessoa amargurada entre lutas internas e fracassos externos.
                Ao aceitar-se como é, desenvolvendo os recursos íntimos para mais crescer e conquistar novos valores morais, o ser atinge o cume das ambições que anelava, sem o saber, não sofrendo os impactos perturbadores das alturas, nem as aflições das regiões servis de onde procede.
                Esse comportamento sugere a experiência do amor, como forma de entrega lúcida e destituída das paixões que amesquinham o sentimento. Ao amar, busca esquecer-se de si mesmo a fim de doar-se, enriquecendo-se enquanto promove os demais. Esse desdobrar do sentimento afetivo constitui o momento glorioso da auto-realização, aquele, no qual, o ser entoa um canto de entusiasmo à vida, exaltando-a e glorificando-a em si mesmo e em torno dos próprios passos. Essa manifestação do amor irrompe do seu interior como um sol que nasce suave e belo, crescendo até atingir o máximo, com uma diferença, que é a de não declinar jamais, permanecendo a aquecer e iluminar.
                Enquanto perdura o sentimento de amor-permuta, dar para receber, ou primeiro receber para doar depois, o egoísmo, o sentido de criança psicológica permanece dominador, dificultando o amadurecimento real.
                Esse amor que leva ao auto-esquecimento – das paixões perturbadoras, das exigências descabidas, das ilusões injustificáveis – é conquista interior que dignifica e liberta.
                Nessa fase do desenvolvimento da vida interior, o ser passa a acreditar na sua destinação espiritual, que é a conquista da felicidade desde agora, e, tranqüilizando-se quanto aos fatores dissolventes e amesquinhantes, avança sem preocupar-se com as torpezas que ficam na retaguarda.
                Somente acreditando nas próprias possibilidades e empenhando-se por vivê-las, apesar dos obstáculos que surgem, é que se atinge com êxito a viagem interior, o autodescobrimento e as técnicas que podem ser aplicadas para auferir os benefícios dessa realização.
                Alcançando esse estágio, surge a vontade da libertação das coisas, das cadeias frágeis que atam aos condicionamentos passados, que pareciam oferecer segurança, em uma existência física que se interrompe a qualquer momento, mas que parece impor necessidades de fixação, que não vão além de quimeras. Todos os pertences valem o preço que lhes são atribuídos, devendo ser considerados de menor importância, embora a sua momentânea utilidade. A libertação dos pertences é momento de alta magnitude para a harmonização psicológica em relação à vida, seja no corpo ou fora dele.
                A vida interior implícita, quando conquistada, ressurge no campo das formas em manifestação explícita. O ser se apresenta total, livre de impedimentos, rico de aspirações, sem conflitos, sem queixas; pleno, portanto.

Do livro: VIDA: DESAFIOS E SOLUÇÕES
DIVALDO P. FRANCO/JOANNA DE ÂNGELIS


2 comentários:

  1. OLÁ DENISE.

    Sou seu mas novo seguidor e a parabenizo por este blog, simplesmente maravilhoso.

    E o que falar de Divaldo Franco?

    Belissima postagem , essa e todas as outras.

    Um abração carioca.

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  2. Um texto de Joanna de Angelis, como sempre, uma página onde muito se pode aprender.
    Beijos.

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