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terça-feira, 4 de outubro de 2011

LIVRE-ARBÍTRIO E PROVIDÊNCIA


A fatalidade aparente, que semeia males pelo caminho da vida, não é mais que a conseqüência do nosso passado, que um efeito voltado sobre a sua causa; é o complemento do programa que aceitamos antes de renascer, atendendo assim aos conselhos dos nossos guias espirituais, para nosso maior bem e elevação.
                Nas camadas inferiores da criação a alma ainda não se conhece. Só o instinto, espécie de fatalidade, a conduz, e só nos seus tipos mais evoluídos é que aparecem, como o despontar da aurora, os primeiros rudimentos das faculdades do homem. Entrando na humanidade, a alma desperta para a liberdade moral. Seu discernimento e sua consciência desenvolvem-se cada vez mais à proporção que percorre essa nova e imensa jornada. Colocada entre o bem e o mal, compara e escolhe livremente. Esclarecida por suas decepções e seus sofrimentos, é no seio das provas que obtém a experiência e firma a sua estrutura moral.
                Dotada de consciência e de liberdade, a alma humana não pode recair na vida inferior, animal. Suas encarnações sucedem-se na escala dos mundos até que ela tenha adquirido os três bens imorredouros, alvo de seus longos trabalhos: a sabedoria, a ciência e o amor, cuja posse liberta-a, para sempre, dos renascimentos e da morte, franqueando-lhe o acesso à vida celeste.
                Pelo uso do seu livre-arbítrio, a alma fixa o próprio destino, prepara as suas alegrias ou dores. Jamais, porém, no curso de sua marcha – na provação amargurada ou no seio da luta ardente das paixões -, lhe será negado o socorro divino. Nunca deve esmorecer, pois, por mais indigna que se julgue; desde que em si desperta a vontade de voltar ao bom caminho, à estrada sagrada, a Providência dar-lhe-á auxílio e proteção.
                A alma é criada para a felicidade, mas, para poder apreciar essa felicidade, para conhecer-lhe o justo valor, deve conquistá-la por si própria e, para isso, precisa desenvolver as potências encerradas em seu íntimo. Sua liberdade de ação e sua responsabilidade aumentam com a própria elevação, porque, quanto mais se esclarece, mais pode e deve conformar o exercício de suas forças pessoais com as leis que regem o universo.
                A liberdade do ser se exerce, portanto, dentro de um círculo limitado: de um lado, pelas exigências da lei natural, que não pode sofrer alteração alguma e mesmo nenhum desarranjo na ordem do mundo; de outro, por seu próprio passado, cujas conseqüências lhe refluem através dos tempos, até à completa reparação. Em caso algum o exercício da liberdade humana pode obstar à execução dos planos divinos; do contrário, a ordem das coisas seria a cada instante perturbada. Acima de nossas percepções limitadas e variáveis, a ordem imutável do universo prossegue e mantém-se. Quase sempre julgamos um mal aquilo que para nós é o verdadeiro bem. Se a ordem natural das coisas tivesse de amoldar-se aos nossos desejos, que horríveis alterações dão não resultariam?
                O primeiro uso que o homem fizesse da liberdade absoluta seria para afastar de si as causas de sofrimento e para se assegurar, desde logo, uma vida de felicidade. Ora, se há males que a inteligência humana tem o dever de conjurar, de destruir – por exemplo, os que são provenientes da condição terrestre -,  outros há, inerentes à nossa natureza moral, que somente dor e compreensão podem vencer; tais são os vícios. Nestes casos, torna-se a dor uma escola, ou, antes, um remédio indispensável: as provas sofridas não são mais do que distribuição equitativa da justiça infalível. Portanto, é a ignorância dos fins a que Deus visa que nos faz recriminar a ordem do mundo e suas leis. Criticamo-las porque desconhecemos o modo porque se cumprem.
                O destino é resultante, através de vidas sucessivas, de nossas próprias ações e livres resoluções.
                O homem não parece ter guardado memória das resoluções tomadas antes de renascer; mas, chegando a ocasião, colocar-se-á ele à frente dos acontecimentos premeditados, a fim de executar a parte que lhe compete e que se torna necessária ao seu progresso e à observância da inevitável lei.

Do livro: Depois da Morte – Léon Denis

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3 comentários:

  1. Olá, queria
    O bom uso da liberdade nos dá consciência reta... Bom demais!!!
    B jm de paz

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  2. Olá querida, adorei esse blog. Também sou espírita e estou apreciando muito as matérias postadas aqui. Bjs, Ticiana Pacheco (www.babadeanimais.blogspot.com)

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  3. Estou retribuindo sua visita, mto obrigada! Me deparei com este blog maravilhoso.. to seguindo!
    Um beijooo.

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