Perante
Deus, todos os homens são iguais, pois tiveram o mesmo princípio e destinam-se,
sem exceção, ao mesmo fim: a glória e a felicidade.
As dissemelhanças que apresentam entre si, quer em
inteligência, quer em moralidade, não derivam da natureza íntima deles;
resultam apenas de haverem sido criados há mais ou há menos tempo e do maior ou
menor aproveitamento desse tempo, no desenvolvimento das aptidões e virtudes
que lhes são intrínsecas, consoante o bom ou o mau uso do livre arbítrio por
parte de cada um.
A igualdade absoluta dos homens perante Deus não é
válida em sociologia, a isso se opõe a diversidade das faculdades e dos
caracteres.
A ambição e a inveja de uns, somadas ao idealismo
irrefletido de outros, fazem que muitos sonhem com uma quimérica igualdade das
riquezas, que, se chegasse a concretizar-se, seria desfeita a curto prazo pela
força das coisas.
Não infira daí que as falhas de nossa estrutura
sócio-econômica, responsáveis por tantos sofrimentos, não devam ser sanadas.
Pelo contrário, todos devemos lutar para que as instituições terrenas se
aperfeiçoem, permitindo alcancemos uma situação tal em que caiam os privilégios
de casta ou de nascimento; extingam-se os preconceitos de cor, de raça e de
crença; haja oportunidades educacionais para quantos as desejem,
indistintamente; as sanções penais não recaiam tão somente sobre os fracos; a
mão-de-obra seja associada e não escrava do capital, etc.
O melhor meio de atingirmos esse objetivo, todavia,
não é a subversão da sociedade, o que retardaria o progresso e o bem-estar
coletivos, mas sim a cristianização do homem, levando-o ao cumprimento exato de
seus deveres para consigo mesmo, para com o próximo e para com Deus,
incutindo-lhe, outrossim, serena e inabalável confiança nos desígnios da
Providência, que não desampara ninguém e, malgrado certas aparências
enganadoras, a todos retribui de conformidade com seus méritos, através do
mecanismo das vidas sucessivas.
Urge compreendamos que, qualquer que seja a posição
em que se achem situados, todos os homens são proletários da evolução e que a
diversidade de funções no complexo social é tão indispensável à sua harmonia
quanto as variadas finalidades dos órgãos o são ao equilíbrio de nosso
organismo.
Do Livro: As Leis
Morais – Rodolfo Calligaris
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