Os espíritos inferiores conservam por
muito tempo as impressões da vida material. Acreditam ainda viver fisicamente e
continuam a sentir, às vezes durante anos, o engano de suas ocupações habituais.
Para os materialistas, o fenômeno da morte permanece incompreensível. Por falta
de conhecimentos prévios, confundem o corpo fluídico com o corpo físico. As
ilusões da vida terrestre ainda persistem neles. Pelos seus gostos e até mesmo
pelas suas necessidades imaginárias, estão como que amarrados à Terra. Depois,
lentamente, com a ajuda de espíritos benfazejos, sua consciência desperta, sua
inteligência se abre à compreensão desse novo estado de vida. Mas, desde que procuram
se elevar, sua densidade os faz recair na Terra. As
atrações planetárias e as correntes fluídicas do espaço
os reconduzem violentamente para nossas regiões, como folhas secas varridas
pela tempestade.
Os crentes ortodoxos vagueiam na
incerteza e procuram a realização das promessas do sacerdote e do pastor, o
gozo das beatitudes prometidas. Às vezes, sua surpresa é grande, e um longo
aprendizado é necessário para se iniciarem nas verdadeiras leis do espaço. Em
vez de anjos ou demônios, encontram os espíritos dos homens que, como eles,
viveram na Terra e os precederam.
Sua decepção é grande ao verem suas
esperanças malogradas, suas convicções transformadas por fatos que de nenhum
modo, na educação recebida, os havia preparado. Mas se durante a vida foram bons
e submissos ao dever – tendo os atos sobre o destino ainda mais influência do que as
crenças – essas almas não poderão ser infelizes.
Para os descrentes e todos aqueles que
com eles se recusaram a admitir a possibilidade de uma vida independente do corpo,
julgam-se mergulhados em um sonho, cuja duração irá se prolongar até que seu
erro seja desfeito. Suas impressões são bastante variadas, assim como os valores
das almas. Aquelas que, durante a vida terrestre, conheceram a verdade e a
serviram, recolhem, logo que desencarnam, o benefício de suas investigações e de seus trabalhos.
A lei de atração no espaço é a das
afinidades. Todos os espíritos estão sujeitos a ela. A orientação de seus
pensamentos os leva naturalmente para o lugar que lhes é próprio, porque o pensamento
é a própria essência do mundo espiritual, sendo a forma fluídica apenas o
vestuário. Por todos os lugares, reúnem-se os que se amam e se compreendem.
Se é apegado às coisas materiais, o
espírito permanece ligado à Terra e se mistura aos homens que têm os mesmos gostos,
os mesmos apetites. Quando é voltado para o ideal, para os bens superiores, se
eleva sem esforço para o objeto de seus desejos. Une-se às sociedades do mundo espiritual,
participa de seus trabalhos e desfruta dos espetáculos, das harmonias e do
infinito.
Se o pensamento cria, a vontade
edifica. A fonte de todas as alegrias, de todas as dores está na razão e na
consciência. É por isso que encontramos, cedo ou tarde, no além, as criações de
nossos sonhos e a realização de nossas esperanças. Mas o sentimento da tarefa inacabada traz, ao mesmo tempo que
os afetos e as lembranças, a maior parte dos espíritos para a Terra. Toda alma
encontra o meio que os seus desejos reclamam e irá viver nos mundos sonhados,
unida aos seres que estima; aí também encontrará as lamentações, os sofrimentos
morais que seu passado gerou.
Nossas concepções e nossos sonhos nos
seguem por toda parte. No surto de seus pensamentos e no ardor de sua fé, os adeptos
de cada religião criam imagens nas quais acreditam reconhecer os paraísos
entrevistos. Depois, pouco a pouco, percebem que essas criações são imaginárias, de pura
aparência e comparáveis a vastos panoramas pintados na tela ou a imensos
afrescos. Aprendem, então, a se desprender e desejam realidades mais altas e
mais sensíveis. Sob nossa forma atual e no estreito limite de nossas faculdades, não poderíamos
compreender as alegrias e os êxtases reservados aos espíritos superiores, nem
as angústias profundas experimentadas pelas almas delicadas que chegaram aos
limites da perfeição. A beleza está por toda parte; só os seus aspectos variam
ao infinito, de acordo com o grau de evolução e de depuração dos seres.
Fonte: O
PROBLEMA DO SER, DO DESTINO E DA DOR
LÉON DENIS
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