Para muitos, arrependimento seria apenas um estado emocional, todavia, é também um estado mental consolidado, que funciona como uma âncora de segurança e um impulso para a caminhada evolutiva das almas submissas aos grilhões da culpa, adquirida no mau uso da liberdade.
Muita vez, para alcançar semelhante estágio, a criatura precisa padecer longamente até saturar-se no cansaço espiritual, passando a nutrir algum desejo de melhora e progresso em novas linhas de crescimento para Deus.
Três são os traços que caracterizam o arrependimento: desejo de melhora, sentimento de culpa e esforço de superação. Se tirarmos o esforço de superação dessa seqüência teremos o cruel episódio mental do remorso, ou seja, os arrependidos que nada fazem para se melhorar. As tendências mais marcantes dessas experiências interiores podem ser percebidas em algumas manifestações de dor psíquica corretiva, que se diferencia da dor psíquica expiatória. O arrependimento impulsiona, o remorso estagna.
Desejo de Melhora – nesse estágio nos encontramos sob o jugo da vaidade e pode expressar-se por mecanismos psicológicos variados. Desejar melhora é ter que reconhecer a própria penúria moral, assumi-la livremente em razão do idealismo nobre. É doloroso o encontro com as sombras interiores, mesmo quando queremos sinceramente nos ver libertos delas.
O impulso para crescer espiritualmente para nós é um desafio de proporções sacrificiais. Chamemos de neurose de perfeição ou perfeccionismo a necessidade obsessiva de fazer o bem com exatidão, uma profunda inaceitação de suas falhas e as dos outros. Gerando melindre e intolerância, face ao nível de exigência e cobrança para consigo e com o mundo à sua volta. A angústia decorrente do contato com o ego, o homem velho que queremos transformar, leva a ativar mecanismos de defesa para acobertar essa inferioridade que detectamos em nós; então entra em ação o orgulho, criando uma falsa imagem, uma imagem idealizada com a qual procuramos nos forrar de ter que olhar e admitir a pequenez da qual somos portadores. Essa luta nos recessos dos sentimentos e do pensamento traz à baile o conflito, a insatisfação e todo tipo de incômodo interior, deixando a vida íntima em estado de intensas comoções e mudanças. Damos o nome de sentimento de culpa a todo esse conjunto de reações emocionais, quase sempre indefiníveis para quem os sofre.
Sentimento de Culpa – tem camuflagens e nuanças muito versáteis. Deixemos claro que em nosso estágio de aperfeiçoamento podemos torná-lo como um fator de impulsão para a melhora. Se a criatura arrependida não sentisse culpa, não garantiria a continuidade de seu progresso e desistiria, optando pela loucura ou pela queda moral. Digamos que a culpa é uma energia intrusa, porém, necessária na sustentação do desejo de melhora. Jamais tomemo-la como essencial, porque é um sentimento aprendido, um resultado de vivências anteriores e não uma virtude com a qual tenhamos sido criados. Suas manifestações podem ser percebidas na autopunição, no sentimento de desmerecimento e desvalor, nas fantasias de carma e de dor, nas posturas de vítimas da vida, na inconformação, no azedume sistemático, nas crises de autopiedade ou ainda nos hábitos da lamúria e da queixa. É só estudar com atenção e perceberemos as relações entre esses processos de culpa e o orgulho que gerencia os mecanismos de defesa como, por exemplo, a projeção, que se constitui de transferir para fora aquilo que não estamos suportando em nós mesmos, constatando nos outros o que não queremos ver em nossa intimidade.
Esforço – é a ação que promove o equilíbrio no processo do arrependimento. Não existe arrependimento real sem reparação. Querer melhorar, sentir-se culpado e nada fazer é muito doloroso. Eis aqui a importância dos serviços de amor ao próximo que alivia e consola alguém, mas que também estabiliza os níveis energéticos de quem o realiza.
Temos o desejo da melhora, mas o orgulho afeta a imaginação levando-nos a crer que já estamos redimidos com poucos esforços, cria uma sensação de que já somos o que devermos ser, gerando a auto-suficiência espiritual, ou seja, hábitos milenares de presunção do conhecimento aliado à crença estéril causando-nos agradável sensação de superioridade.
Se observarmo-nos, com cuidado, veremos que desejamos o bem, mas ainda não o sentimos. Desejamos esclarecer, mas não sentimos alegria em estudar.
O arrependimento é uma virtude por se tratar de um estado essencial para o progresso de almas que peregrinaram intensamente pelo mal.
MEREÇA SER FELIZ – Superando as ilusões do orgulho
Wanderley S. de Oliveira – Espírito Ermance Dufaux
2 comentários:
o esforço e o arrependimento vão questões realmnete muito importantes.
Linda mensagem, amiga Denise... Desejo um ótimo final de semana!!
Beijos no coração!♥
Mari
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