Crises Sociais II
Quase sempre os vitoriosos de um dia, passado algum tempo, tombam sobre os vencidos que fazem silencio com a sua morte para que também se calem e desapareçam do cenário social.
Os ditadores periódicos e os seus coadjuvantes, quando no poder, dão a impressão de perenidade nos desmandos e no ultraje à sociedade e ao cidadão. No entanto, de um para outro momento, vendavais inesperados desalojam-nos do topo e os atiram em masmorras sombrias e fétidas para onde anteriormente enviavam os seus opositores, experimentando a amargura da situação. Incapazes de suportar os suplícios que aos outros impuseram, desertam do corpo pelo suicídio, quando não são assassinados pelo ódio popular ou pelos aficcionados que, por sua vez, ambicionam substituí-los.
Por mais tempo permaneçam á frente das arbitrariedades dos próprios desmandos, o seu período de insânia passa, ficando a memória sombria da sua hediondez.
Outrossim, a velhice os carcome no poder, as enfermidades os devoram, sem que possam alterar e manter o curso dos acontecimentos, culminando na morte que se encarrega de encerrar-lhes o capítulo selvagem da cruel dominação.
As crises sociais, são, portanto, inevitáveis, até mesmo normais, como reação dos processos vitais da continuidade da vida.
Assim sendo, não se trata de uma desgraça, mas de uma necessidade de releitura do desenvolvimento da humanidade que, malconduzida, leva a calamidades que poderiam ser evitadas.
A vida nunca se desenvolve de maneira horizontal, sem ascendência e descendência, num todo descontínuo psicológico e organizacional, responsável pelas alterações e processos de mudanças que devem sempre ser para melhor e por todos partilhada.
À medida que ocorrem a evolução e a compreensão dos valores humanos, apresenta-se o acumular de experiências que se transformam em energias impondo diferentes rumos. A permanência na mesma trilha de acontecimentos termina por dar lugar ao tédio, a uma parada no mecanismo de crescimento, gerando desconforto e desinteresse pelo fenômeno histórico da busca da felicidade.
Ter-se a coragem de deixar para trás tudo quanto foi adquirido com o pensamento firme nas infinitas possibilidades de realização alcançável, expressa uma crise social, quando o grupo não mais se conforma com as questões em que se envolve e aspira por mais elevados patamares de realizações.
Não havendo esse valor moral para produzir mudanças e alterar rumos, as crises sociais convertem-se em bolsões de inquietações, explodindo na violência pessoal, doméstica, urbana, nacional e internacional, contra quase todos, especialmente os menos equipados que sejam encontrados pela frente.
A turbulência, nessas ocasiões, toma conta dos sentimentos, e os indivíduos estiolam as propensões para a dignidade ante a revolta surda que explode em desespero malcontido.
Não desfrutando de liberdade de valores que dignificam a existência, de igualdade de direitos, de oportunidades, de realizações, surge, como fuga compensatória, a libertinagem que se mascara de licenças morais, advindo o desbordamento das paixões, mediante o erotismo enlouquecido, em forma de sensualidade desmedida, no abuso do álcool, do fumo, das drogas, dos jogos de azar, em buscas desesperadas pelo ter, exclusivamente com o fim de gozar.
Os governos injustos sabem dessa disposição das massas e cerram os olhos à devassidão, como um ópio para alucinar os viciados enquanto aqueles se locupletam nas situações grandiosas a que se guindam, astutos e insensíveis.
Assim, inevitavelmente, as crises sociais sacudirão o planeta periodicamente, impondo reformulações administrativas e humanas, esboços históricos de equidade e de justiça, esforço de igualdade de direitos entre as diversas classes, correspondendo, com certeza, aos diferentes níveis de necessidades e de realizações especiais.
Trata-se da inexorável lei do progresso trabalhando os metais difíceis do comportamento humano e moldando as novas realizações que terminam no patamar da felicidade.
Exauridas as tentativas de mudanças de valores nos comportamentos sociais, diferentes formas de vida são apresentadas, expressando-se em crises, que podem gerar convulsões dolorosas como procedimentos plenificadores.
Do livro: ENCONTRO COM A PAZ E A SAÚDE
Divaldo P. Franco/Esp. Joanna de Ângelis
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