O orgulho é o sentimento de superioridade pessoal resultante do processo natural de crescimento do espírito; um subproduto do instinto de conservação, um princípio que foi colocado no homem para o bem, porque sem o sentimento de valor pessoal e a necessidade de estima não encontraríamos motivação para existir e não formaríamos um autoconceito de dignidade pessoal.
O problema não é o sentimento do orgulho, mas o descontrole de seus efeitos. No atual estágio de aprendizado, ainda não temos plena capacidade de controlá-lo. Ele está presente em quase tudo o que fazemos. Isso o torna uma paixão, uma paixão crônica por si mesmo, impropriamente denominado como amor próprio.
Seu principal reflexo na vida interior dá-se no departamento mental da imaginação, no qual está armazenada a matriz superdimensionada da imagem que fazemos de nós. A partir dessa matriz, que tem vida própria como uma segunda personalidade, processa-se e dinamiza-se todo um complexo de valores morais e afetivos que regulam de boa parte das operações psíquicas e emocionais do ser, determinando atitudes, palavras, escolhas, aspirações e gostos.
A vaidade e a indiferença, o preconceito e a presunção, o desprezo e o melindre, a pretensão e a inveja são alguns reflexos inevitáveis desse estado orgulhoso de ser nas ações de cada dia. E o conjunto dos hábitos derivados desses reflexos formam o que chamamos de personalismo – o estado de supervalorização do eu.
O personalismo é a expressão mais perceptível e concreta do orgulho. É a excessiva e incontrolável valorização conferida a nós mesmos levando-nos a supor termos direitos e qualidades maiores do que aquelas as quais realmente possuímos.
Enquanto o orgulho incapacita-nos para verificar as próprias imperfeições, o personalismo tem como efeito gerar idéias de que tudo aquilo que parta de nós é o melhor e mais correto. A superioridade pessoal provocada pelo sentimento de orgulho interfere na formulação de juízos. A partir disso, estipulamos concepções pessoais como verdades incontestáveis. Isso é o personalismo.
O reflexo do orgulho é um outro eu, uma segunda natureza enraizada nas profundezas da subconsciência capaz de fazer-nos sentir e pensar em coisas que não correspondem ao que verdadeiramente desejamos e sentimos.
O orgulho cria uma ilusão, uma distorção da realidade. A representação mental do que somos, gerada pelo orgulho, que quase sempre atende a interesses personalistas, pode ser considerado como uma verdadeira patologia. Quanto mais ausência de controle sobre essa paixão narcisista, mais haverá desconexão com a realidade.
A maioria de nós vivemos lampejos de loucura passageira na imaginação fértil e desordenada na qual embrenhamos ante os acontecimentos do dia a dia. O orgulhoso vive intensamente de máscaras que correspondam a essas idealizações do seu imaginário, para fazer com que o mundo à sua volta acredite que ele seja quem ele próprio acredita ser. Naturalmente a sua auto-imagem é exacerbada em qualidades que nem sempre possui, procedendo de modo a sempre esconder as imperfeições, gerando a dissimulação.
MEREÇA SER FELIZ – Superando as ilusões do orgulho
Wanderley S. de Oliveira – Espírito Ermance Dufaux
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