Certas colocações de Jesus são complicadas, diria até
difícil de engolir. Como entender, por exemplo, essa história de amar aos
inimigos? Se hoje, com uma certa bagagem intelectual e em pleno terceiro
milênio, este axioma nos parece inatingível, quanto mais naquela época e no
seio de um povo escravizado? Pois bem, para entender Jesus é preciso conhecer
Kardec, pois a Doutrina Espírita é a chave para compreender o pensamento do
Mestre. O povo de então se atinava muito em entender o espírito dos textos,
deixavam-se impressionar pela letra fria e pelas longas e cansativas exposições
dos rabinos. Jesus, embora mais simples e direto, queria mais, desejava que os
homens raciocinassem e não apenas obedecessem, mas entendessem as orientações
dos profetas que, muito embora adiantados para a época, ainda eram espíritos
não completamente evoluídos e que, por isso, acabavam misturando nos seus
ensinamentos, o Divino com o humano. Alguém pode acreditar que Deus, o Ser
Supremo, mandasse exterminar todos os povos derrotados nas guerras, passando
tudo o que tivesse sopro pelo fio da espada, como reza a bíblia?
Com o espiritismo nos é possível entrar em sintonia
com a orientação de Jesus, bem diferente da interpretação da época. No que se
aplica aos inimigos, o amar de Jesus nos convida a perdoar quem nos fez mal e
ou não buscarmos, nem alimentarmos, desejos de vingança. O Mestre nos ensina a
expulsar o inimigo que jaz permanentemente em nossos pensamentos. Quando
odiamos, mantemo-nos escravo do desafeto. Acordamos, comemos, trabalhamos,
dormimos, enfim, vivemos atrelados a esse sentimento de rancor, alimentando
desejos de vingança, tornando-nos escravos do odiado. Fatalmente, isto nos leva
a um estado de enfermidades e desequilíbrios. Ao nos chamar a atenção para o
perdão, Jesus nos ensina o caminho para desatar os laços que nos prendem aos
inimigos. Então, longe está a esperança de que amemos aos nossos desafetos como
fazemos com nossos familiares.
A doutrina espírita nos esclarece que o Mestre quer
apenas que afastemos de nosso coração a mágoa, a infelicidade, o ódio e o
desejo de vingança. Allan Kardec mostra neste capítulo do Evangelho Segundo o
Espiritismo, o verdadeiro pensamento de Jesus, conforme a doutrina nos
esclarece: Amar os inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de
vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem;
é não opor nenhum obstáculo à reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e
não o mal; é experimentar júbilo em vez de pesar, com o bem que lhes advenha é
socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer
por atos, de tudo que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre
o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as
condições do mandamento Amai os vossos inimigos.
Para encerrar, lembremo-nos do Espírito Léon Tolstói,
que nos diz que com a luz que o conceito de reencarnação joga sobre o problema,
torna-se mais fácil entender a necessidade de amar aos nossos inimigos para
podemos ter a paz e a felicidade que almejamos um dia.
Orlando Ribeiro
Fonte: Jornal
Espiritismo Estudado – dezembro/2016
imagem: google
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