Fatalidade
biológica, a morte é fenômeno habitual da vida. Na engrenagem molecular,
associam-se e desagregam-se partículas, transformando-se através do impositivo
que as constitui, face à finalidade específica de cada uma. Por efeito, o
mesmo ocorre com o corpo, no que resulta o fenômeno conhecido como morte.
Desinformado quanto aos mecanismos da forma e da funcionalidade
orgânica, desestruturado psicologicamente, o homem teme a morte, em razão do
atavismo representativo do fim da vida, da consumpção do ser.
A morte é um fenômeno ínsito da vida, que não pode ser
desconsiderado.
Neuroses e psicoses graves se estabelecem no indivíduo em
razão do medo da morte, paradoxalmente, nas expressões maníaco-depressivas,
levando o paciente a suicidar-se ante o temor de a aguardar.
Numa análise psicológica profunda, o homem teme a morte,
porque receia a vida. Transfere, inconscientemente, o pavor da existência
física para o da destruição ou transformação dos implementos que a constituem.
Acostumado a evadir-se das responsabilidades, mediante os mecanismos desculpistas,
o inexorável acontecimento da morte se lhe torna um desafio que gostaria de não
defrontar, por consciência, quiçá, de culpa, passando a detestar esse
enfrentamento.
Para fugir, mergulha na embriaguez dos sentidos consumidores
e das emoções perturbadoras, abreviando o tempo pelo desgaste das energias
mantenedoras do corpo físico.
O homem, acreditando-se previdente e ambicioso, aplica o
tempo na preparação do futuro e na preservação do presente. Entretanto,
poderia e deveria investir parte dele na reflexão do fenômeno da morte, de
modo a considerá-lo natural e aguardá-lo com tranqüila disposição emocional.
Nem o desejando ou, sequer, evitando driblá-lo.
A educação que se lhe ministra desde cedo, face ao mesmo
atavismo apavorante da morte, é centrada no prazer. nas delícias do ego, nas
vantagens que pode retirar do corpo, sem a correspondente análise de
temporalidade e fragilidade de que se revestem. Graças a essa inadvertência
espocam-lhe os conflitos, as fobias, a insegurança.
Um momento diário de análise, em torno da vida física,
predispõe a criatura a projetar o pensamento para mais além do portal de cinza
e de lama em que se deteriora a organização somática.
Tudo, no mundo físico, é impermanente, e tal impermanência
pode ser vista sob duas formas: a exterior ou grosseira, e a interior ou
sutil.
Nada é sempre igual, embora a aparência que preserva nos
períodos de tempo diferentes. Por isto mesmo, tudo se encontra em incessante
alteração no campo das micropartículas até o instante em que a forma se
modifica — fase sutil de impermanência. Um objeto que se arrebenta e um corpo,
vegetal, animal e humano, que morre, passam pela fase da transição exterior
grosseira para uma outra estrutura, experimentando a morte.
A morte, todavia, não elimina o continuar da consciência, após a disjunção cadavérica.
Se, desde cedo, cria-se o hábito da meditação a respeito
da consciência sobrevivente, independente do corpo, a morte perde o seu efeito tabu de aniquiladora, odienta
destruidora do ideal, do ser, da vida.
O tradicional enigma do que acontece após a morte deve
ser de interesse relevante para o homem que, meditando, encontra o caminho
para decifrá-lo. Deixar-se arrastar pelo pavor ou não lhe dar qualquer
importância constituem comportamentos alienantes.
(continua)
Do livro: O Homem Integral – Divaldo Pereira Franco/Joanna Di Ângelis
imagem: grupoallankardec.blogspot.com
2 comentários:
Verdade não fomos educados para lidar com a morte apenas quando ela bate em nossa porta...
Deveríamos aprender que nascemos para morrer....
Beijo Lisette.
Olá Denise!
Que bom vê-la novamente em meu blog!
Agora ficaremos perto novamente.
Beijos!
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