A alma está, durante a vida material, assim como depois da morte, revestida constantemente de um envoltório fluídico, mais ou menos sutil e etéreo, o perispírito ou corpo espiritual. O perispírito serve de intermediário da alma e do corpo material: transmite à alma as impressões dos sentidos e comunica ao corpo as vontades do espírito. No momento da morte, destaca-se da matéria tangível, abandona o corpo às decomposições do túmulo; porém, inseparável da alma, conserva a forma exterior da personalidade desta. O perispírito é, pois, um organismo fluídico; é a forma preexistente e sobrevivente do ser humano, sobre a qual se modela o envoltório carnal, como uma veste dupla e invisível, constituída de matéria quintessenciada, que atravessa todos os corpos por mais impenetráveis que estes nos pareçam.a matéria grosseira, incessantemente renovada pela circulação vital, não é a parte estável e permanente do homem. É perispírito o que garante a manutenção da estrutura humana e dos traços fisionômicos, e isto em todas as épocas da vida, desde o nascimento até a morte. Exerce, assim, a ação de uma forma, de um molde contrátil e expansível sobre o qual as moléculas vão incorporar-ser.
Esse corpo fluídico não é imutável; depura-se e enobrece-se com a alma; segue-a através das suas inumeráveis encarnações; com ela sobe os degraus da escada hierárquica, torna-se cada vez mais diáfano e brilhante para, em algum dia, resplandecer com essa luz radiante.é no cérebro desse corpo espiritual que os conhecimentos se armazenam e se imprimem em linhas fosforescentes, e é sobre essas linhas que, na reencarnação, se modela e forma o cérebro da criança. Assim, o intelecto e o moral do espírito, longe de se perderem, capitalizam-se e se acrescem com as existências deste. Daí as aptidões extraordinárias que trazem ao nascer, certos seres precoces, particularmente favorecidos.
A elevação dos sentimentos, a pureza da vida, os nobres impulsos para o bem e para o ideal, as provações e os sofrimentos pacientemente suportados, depuram pouco a pouco as moléculas perispiríticas, desenvolvem e multiplicam as suas vibrações. Como uma ação química, eles consomem as partículas grosseiras e só deixam subsistir as mais sutis, as mais delicadas.
Por efeito inverso, os apetites materiais, as paixões baixas e vulgares reagem sobre o perispírito e o tornam mais pesado, denso e escuro. A atração dos globos inferiores, como a Terra,exerce-se de modo irresistível sobre esses organismos espirituais, que, em parte, conservam as necessidades do corpo e não podem satisfazê-las. As encarnações dos espíritos que sentem tais necessidades sucedem-se rapidamente, até que o progresso pelo sofrimento venha atenuar suas paixões, subtraí-los às influências terrestres e abrir-lhes o acesso de mundos melhores.
É pelas correntes magnéticas que o perispírito se comunica com a alma. É pelos fluidos nervosos que ele está ligado ao corpo. Esses fluidos, posto que invisíveis, são vínculos poderosos que o prendem à matéria, do nascimento à morte, e mesmo, nos sensuais, assim o conservam, até à dissolução do organismo. A agonia representa a soma de esforços realizados pelo perispírito a fim de se desprender dos laços carnais.
O fluido vital, de que o perispírito é a origem, exerce um papel considerável na economia orgânica e explica muitos problemas patológicos. Ao mesmo tempo agente de transmissão das sensações externas e das impressões íntimas, ele é comparável ao fio telegráfico, transmissor do pensamento, e que é percorrido por uma dupla corrente.
Esse organismo espiritual, semelhante ao corpo material, é um verdadeiro reservatório de fluidos, que a alma põe em ação pela sua vontade. É ele que no sono se desprende da matéria, transporta-se a distâncias consideráveis e vê, percebe e observa coisas que o corpo não poderia conhecer por si.
Do livro: Depois da Morte – Léon Denis
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