O convite é sério, embora possa não parecer. Você irá
entender após a história que vou narrar com as minhas palavras e que pertence à
literatura espírita.
Conta-se que um espírito chegou às elevadas esferas
da espiritualidade para adentrar as regiões celestiais dos bem-aventurados, da
qual ele se fizera merecedor, segundo os seus cálculos. Vestia-se com uma
túnica branca resplandecente de luz. De tão elevado se apresentava que os seus
pés não tocavam o chão, volitava.
Dirigiu-se ao Emissário Divino responsável por
aquelas paragens celestiais e solicitou a permissão para entrar naquele local
de bonança indescritível. O emissário, porém, de olhar arguto e com longa
experiência, disse ao postulante àquelas paragens de luz que antes precisava
fazer algumas perguntas a ele para confirmar o direito ao qual se julgava
merecedor. O candidato à felicidade indescritível não se fez de rogado e
colocou-se à disposição das indagações a ele endereçadas.
Perguntou-lhe então, o Emissário, se ele tinha
incorporado as grandezas do amor, e a resposta foi afirmativa. Em seguida
foi-lhe perguntado sobre o dom da sabedoria que também recebeu a mesma
resposta. Indagado sobre o exercício da caridade e da paciência, o candidato
confirmou suas experiências. Sobre a fé não havia nenhuma dúvida, ele sempre
confiara na Providência Divina. No combate aos vícios, o postulante não deixava
nada a desejar.
Entretanto, o Emissário Divino, algo estava errado
com aquele candidato ao paraíso. Num momento de inspiração fez uma pergunta
muito direta ao interessado: você, meu irmão, que se veste de roupas muito
alvas, por acaso já trabalhou no inferno?
“Como?!” – indignou-se ele. “Então eu poderia ter
trabalhado em tal lugar e manter-me na pureza em que me apresento nessa
ocasião?!”
O Emissário Divino percebeu que tinha acertado na
mosca! Incontinente respondeu à indignação daquele espírito: “Meu irmão, Jesus,
o lírio de Deus, trabalhou junto ao inferno moral da humanidade, e da Terra
partiu sem nenhuma mácula! Seremos nós melhores do que Ele?”
Mas não se dando por satisfeito, completou: “O sol,
todos os dias, apesar de estar a uma distância de 150 milhões de quilômetros,
lança seus raios aos mais infectos pântanos da vida sem macular-se! Por que
haveríamos nós de nos comprometermos por trabalhar no inferno dos homens
necessitados de nossos préstimos?”
E continuou a esclarecer: “É isso que está faltando
para você adquirir o direito a regiões celestiais. Quem conhece o amor, precisa
descer ao planta para amar aos semelhantes, mesmo que tal decisão represente
trabalhar no inferno! Quem possui a sabedoria, precisa descer ao inferno da
ignorância para ensinar os que sabem menos! Quem possui a fé sólida, precisa
socorrer aos aflitos do mundo no inferno da incredulidade em que vivem. Por
isso, meu amigo, é preciso descer ao inferno daqueles que estão em situação
piores do que a nossa e socorrer sempre! Boa viagem de regresso!”
Por isso que no início fiz o convite para
trabalharmos no inferno. Não sei quanto a você que lê este texto, mas já ouvi
muitas vezes as seguintes frases: “Não aguento mais o inferno dessa vida! Essa
mulher é um verdadeiro inferno que me acompanha! Não sei onde estava com a
cabeça para casar com o inferno desse homem! Esses filhos são um inferno a trazer-me
problemas para resolver! Nesse emprego parece que vivo em um inferno! Esse
patrão existe para fazer da minha vida um inferno!”
Ora, se é trabalhando no inferno que nos candidatamos
às regiões elevadas da espiritualidade, vamos aproveitar se já estamos nele!
Sua esposa, seu marido, seu emprego, seus filhos, seu
patrão, seus parentes se constituem em inferno para você? Ótimo! Estamos tendo
a oportunidade de galgar nossos degraus para regiões felizes onde moram a
felicidade e a paz verdadeiras.
Se você, de alguma forma, sente-se no inferno em
qualquer lugar onde a Providência Divina o colocou na atual existência, e, se
ela nunca se engana, agarre a oportunidade com as duas mãos. Está aí o convite
para você se fazer merecedor de regiões elevadas da espiritualidade superior.
Se for bem-sucedido poderá apresentar-se ao Emissário Divino que irá liberar
sua entrada aos paramos de luz!
Curta seu inferno, meu amigo, ele é o prenúncio do
céu”
Ricardo Orestes Forni
Fonte: Jornal
Espiritismo Estudado – dezembro/2016
imagem: google
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