Vejamos, de maneira mais pormenorizada, os conceitos: idealização, realização, eu idealizado e eu real.
Idealização: ação para se criar, mentalizar a idéia.
A mentalização das idéias acontece no plano das potencialidades, isto é, a idéia só existe enquanto potencial, um ideal a ser realizado.
Observação: é importante diferenciar a idealização real, um movimentos essencial, da idealização fantasiosa, u8m movimentos egóico, que é um tipo de idealização impossível de ser realizado, pelo menos naquele momento.
No ideal fantasioso, a pessoa cria idéias ilusórias, que estão além das suas possibilidades, não sendo possível sua realização naquele instante.
Realização: ação para se tornar real, concretizar a idéia.
A realização das idéias e do ideal está no plano das possibilidades, isto é, as idéias ou ideais podem ser realizados ou não.
Observação: percebamos que dentro de um ponto de vista transcendente, todos os ideais de amor, de desenvolvimentos do bem, do bom e do belo em nós mesmos, serão realizados.
A questão é que esse potencial é desenvolvido de forma gradativa, ao longo do tempo, nas várias oportunidades de vidas sucessivas que temos para realização desse mister.
A idealização, quando egóica, fantasiosa, cria inúmeras distorções, porque a fantasia mascara a realidade. Criamos então as figuras do eu idealizado, mascarado em oposição ao eu real, fator extremamente nocivo que estará impedindo, transitóriamente, a prática do auto amor.
Expliquemos melhor esses conceitos:
Eu idealizado: a forma como eu penso que sou, como eu me idealizo. Normalmente nos idealizamos melhores do que somos em muitos aspectos, por já conhecer as verdades cristãs, por saber o que é certo e errado, etc. o que ocorre, na prática, é que as máscaras não se sustentam indefinidamente e, cedo ou tarde, percebemos a nossa indigência e aí, nos idealizamos piores do que somos, nos colocando numa posição inferior. Percebamos que o ser superior ou inferior só existe em nossas mentes conflituadas. Tanto uma posição, quanto a outra, está distante da realidade.
Eu real: a forma como sou realmente, com limitações, potencialidades e possibilidades já, ou a serem desenvolvidas. O eu real é nem melhor, nem pior do que muitas vezes acreditamos. A realidade que temos virtudes desenvolvidas, ou a serem desenvolvidas e muitas negatividades a serem transmutadas. Essa é a condição de todo ser humano até que se liberte totalmente do ego e se torne um espírito puro.
Esse conflito entre aquilo que se é e o que se pensa ser, gera grandes obstáculos à prática do auto-amor.
O ideal como modelo deve ser apenas uma referência, e não uma exigência.
Quando idealizamos virtudes que ainda não temos, num jogo de faz-se-conta, até o que parecemos ter, nos será tirado. Muitos de nós entram em conflitos enormes, quando Esso acontece. Fato lamentável e desnecessário, se aceitássemos a nossa condição de criaturas simples e ignorantes em processo de evolução.
Quando aceitamos essa condição, entramos no campo da idealização real, pois estaremos cultivando, gradativa e suavemente, as virtudes que já temos latentes, como sementes, em nós mesmos.
Temos como modelo Jesus, e este deve servir como referência para que nos esforcemos em buscar esse ideal, vivenciar em nós o amor do qual Ele foi o exemplo vivo, sem, contudo, nos exigir de forma abrupta, essa vivência, para que não venhamos a distorcer a prática do amor e, assim, retardar o nosso processo evolutivo.
Uma pergunta pode estar vindo à sua mente: como posso fazer isso?
Vigiando e orando. A vigilância é uma condição imprescindível, para que não caiamos nas tentações do nosso próprio ego.
Alírio de Cerqueira Filho