Há muito
tempo e muito longe daqui, havia um rei que governava um grande e rico país.
Esse rei tinha muitos ministros que
se consideravam seus servos, tão grande era o poder de seu grande chefe.
Cada ministro exercia uma tarefa e
uma função determinada no governo daquele país.
Um dia, o rei chamou os seus
servidores (que eram os tesoureiros e oficiais de sua corte) para fazer contas
com ele. Todos teriam que prestar contas ao monarca. Alguns haviam feito
empréstimos e era chegada a hora de pagar suas dívidas ao rei.
Chegou, primeiramente, um importante
servidor, que era uma espécie de tesoureiro do reino. Feito o balanço, foi
verificado que ele devia ao rei a grande quantia de dez mil talentos. (O talento
era uma moeda antiga que valia muito). A dívida total do ministro era enorme, que ele havia
retirado do tesouro real para suas despesas extravagantes de homem pródigo.
Esse oficial gastara no jogo e no
luxo essa quantia fabulosa e agora não tinha possibilidade de pagar sua
dívida ao rei.
Naquele tempo, as leis dos países
orientais ordenavam que fosse vendido, juntamente com sua esposa, seus filhos
e seus bens, aquele que não pudesse pagar suas dívidas ou restituir seus
roubos. Foi o que o rei fez. O seu ministro não tinha com que pagar o débito. O
rei, então, ordenou que ele, sua esposa e seus filhos fossem vendidos para
pagamento da dívida.
Ouvindo
o julgamento do rei, o grande servidor ajoelhou-se diante dele e suplicou-lhe,
entre lágrimas e lamentações:
— Senhor,
tem piedade, tem paciência comigo. Eu trabalharei e te pagarei tudo.
O soberano
encheu-se de compaixão por aquele infeliz homem, que gastara loucamente seu
dinheiro e agora estava reduzido à miséria. E perdoou-lhe a dívida.
O tesoureiro
saiu do palácio real com o coração aliviado pelo perdão de seu senhor. Era
agora um pobre, estava reduzido à miséria, mas, estava em liberdade e sentia-se
feliz: tinha sua mulher, seus filhos e sua casa. Haveria de trabalhar para
viver, trabalharia muito — pensou...
Não muito longe do palácio,
encontrou, no entanto, um pobre servidor do rei, a quem, há muito tempo, ele
emprestara a pequena quantia de cem
denários, que seria uma quantia pequena.
O tesoureiro
do rei estava na miséria... E ali estava, a poucos passos dele, alguém que lhe
devia algum dinheiro...
Esquecendo-se do perdão do bondoso
rei, que tivera compaixão dele, o tesoureiro avançou para o pobre homem e,
segurando-o pela garganta, sem a menor piedade, foi-lhe gritando:
— Paga
o que me deves... Paga-me os cem denários, já, sem demora...
E, cruelmente, sufocava o pobre
servidor do palácio. Este conseguiu ajoelhar-se diante do tesoureiro e,
chorando, sem forças, suplicou:
— Senhor,
tem piedade, tem paciência comigo. Eu trabalharei e te pagarei tudo. Mas,
o tesoureiro era um homem duro de coração e não atendeu ao pobre devedor.
Esqueceu-se de que, momentos antes, ele estava na mesma situação, com uma
dívida imensamente maior e fora perdoado pelo rei... Mandou prender o infeliz
companheiro até que lhe pagasse a dívida.
Aconteceu, porém, uma coisa que o
tesoureiro não esperava. Alguns oficiais da corte, que assistiram à cena do
perdão do soberano, passavam pela rua justamente no momento em que o tesoureiro
apertava a garganta do seu pobre devedor e este lhe suplicava inutilmente
misericórdia.
Os oficiais ficaram profundamente
tristes quando viram o pobre devedor ser levado para a prisão, por uma dívida
tão pequena, por ordem de quem havia sido perdoado por uma dívida tão grande.
E, imediatamente, voltaram à presença de Sua Majestade para contar-lhe tudo
que viram e ouviram.
Então, o rei mandou que seus
soldados fossem buscar o tesoureiro. Quando este chegou diante do trono, muito
amedrontado e acovardado, o rei lhe disse:
— Servo malvado, eu perdoei a tua
dívida porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, ter compaixão de teu
devedor como eu tive de ti? Mas, como és maldoso e não tiveste misericórdia de
teu próximo, não mereces a liberdade. Irás para a prisão até pagares tudo que
me deves.
(Mateus, capítulo 18º,
versículos 23 a
35)
*
Termina Jesus a Parábola dizendo,
numa advertência que não se deve esquecer: “Assim vos fará também meu Pai
Celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.
Nesta parábola, o rei representa Deus, que é o Rei do
Universo. Ele nos tem perdoado uma dívida imensa. Nossa presença na Terra
(nossa atual encarnação) significa um aspecto do imenso perdão de Deus para conosco.
Imensa era nossa dívida para com Deus (tal como a do tesoureiro), dívida
representada pelas nossas muitas culpas e pecados através de muitas
encarnações. Deus nos oferece, agora, o Seu Perdão através de nova
oportunidade, nesta atual existência, para nos corrigirmos e buscarmos a perfeição
de nossos espíritos.
Lembremo-nos
sempre do Perdão Divino, sobretudo quando formos ofendidos por alguém. Por
maior que seja a ofensa que alguém nos faça (calúnia, perseguição, intriga,
brutalidade, etc.), lembremo-nos de que muito
mais temos ofendido a Lei Divina com as nossas rebeldias, nesta vida
atual e em nossas existências passadas.
Por maior
que seja a maldade que alguém nos faça, saibamos perdoar-lhe essa dívida moral, recordando a parábola. Pensemos
assim: qualquer ofensa, por maior que seja, não passa de cem denários, se ela pudesse ser
calculada em dinheiro. E pensemos também, usando a mesma comparação, que nossa
dívida para com Deus é infinitamente maior: é de dez mil talentos!...
Saibamos
perdoar sempre, qualquer que seja a ofensa, que é sempre pequena comparada com
as ofensas que temos feito à Divina Majestade de nosso Rei do Céu.
Do livro: HISTÓRIAS QUE JESUS CONTOU
CLÓVIS TAVARES