O direito de viver é o
primeiro de todos os direitos do homem, cabendo-lhe, subsequentemente, também o
de acumular bens que lhe permitam repousar quando não mais possa trabalhar.
Se
todos os homens fossem previdentes e, ao invés de malgastar seus rendimentos no
vício e no luxo, tratassem de formar um pecúlio com que assegurar a
tranqüilidade de sua velhice, a sociedade não teria que arcar, como hoje
acontece, com o pesado ônus da manutenção de tantas criaturas que chegam ao fim
de seus dias na maior indigência, precisadas de teto, alimento, agasalho,
remédio, etc.
O
desejo de possuir, com o fim de resguardar-se das incertezas do futuro, não
justifica, entretanto, os meios que certos homens soem empregar para conseguir
bens de fortuna.
Propriedade
legítima só é aquela que foi conseguida por meio do trabalho honesto, sem
prejuízo de ninguém.
Ora,
se se pudesse investigar a origem de muitas fortunas acumuladas nas mãos de
determinadas famílias, verificar-se-ia, com horror, que são frutos de roubos
vergonhosos, traficância infames e crimes execráveis.
O
tempo, porém, tudo santifica, de sorte que, após algumas gerações, tais haveres
se transformam em sagrado e inviolável patrimônio, defendido com unhas e dente
pelos netos e bisnetos dos ladrões, traficantes e criminosos que o erigiram.
Não
raro, essas fortunas se transferem, por herança, a pessoas que solicitaram, no
plano espiritual, a oportunidade de voltar ao proscênio da Terra para dar-lhes
uma aplicação nobre, proporcionando assim uma reparação aqueles que
inicialmente as adquiriram mal, reparação essa que, se efetuada, lhes
suavizaria os remordimentos de consciência.
Quase
sempre, todavia, não resistem ao fascínio das riquezas e, longe de
corresponderem ao que delas se esperava, deixam-se tomar pela cobiça, tratando
de aumentar, egoisticamente, aquilo que receberam.
Neste
mundo e no grau evolutivo em que nos encontramos, a aquisição e a defesa da
propriedade individual devem e precisam ser consagradas, porque a ambição é, e
tão cedo não deixará de sê-lo, um dos mais fortes sentimentos humanos,
constituindo-se, mesmo, em mola propulsora do progresso.
Pretender-se
que, a curto prazo, o homem renuncie aos interesses pessoais em nome de um
ideal igualitário, é desconhecer-lhe a natureza e esperar o impossível.
O
que de melhor se deve fazer é aperfeiçoar nossas leis, criando condições para
que aumente o número de proprietários, mediante uma participação mais equitativa
da riqueza.
À
medida que se adianta espiritualmente, o homem passa a compreender que, em
última análise, ninguém é dono de nada, pois tudo pertence a Deus, sendo, todos
nós, meros usufrutuários dos bens terrenos, já que eles não poderão seguir conosco,
de forma alguma, além das fronteiras da morte. Por conseguinte, se a
Providência no-los confia, por determinado período, não é para que os
utilizemos em proveito exclusivamente familiar, pás para que aprendamos a
movimentá-los em benefício de todos, dando-lhes uma função social.
Filhos
que somos do Pai Celestial e portanto co-herdeiros do Universo, dia virá
quando, libertos, por merecimento, do ciclo de reencarnações em mundos
grosseiros como o nosso, haveremos de tornar-nos puros espíritos, tendo por
morada as suaves maravilhosas esferas siderais.
Será,
então, com imensa autopiedade que nos recordaremos desta frase de nossa
evolução em que tão grande é o nosso apego a uns pedaçinhos de chão lamacento e
tão desesperada a nossa luta por uns papeizinhos coloridos, estampados na casa
da moeda.
Do Livro: As Leis Morais – Rodolfo Calligaris
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