Os sofrimentos são ocorrências naturais do processo evolutivo, constituindo desafios às resistências dos seres. Nas faixas primárias, nas quais predominam os instintos e as sensações, eles se manifestam em forma de agressivas dores físicas, em ração da ausência de percepção emocional para decodificá-los e atingir as áreas mais nobres do cérebro, igualmente limitado.
Desse modo, manifestam-se nas criaturas humanas, nos vários aspectos: físicos, morais, emocionais e espirituais. Quanto mais elevado o ser, tanto maior a sensibilidade de que é dotado, possuindo forças para transubstanciá-los e alterar-lhes o ciclo de dor, passando a ser metodologia de educação, de iluminação.
Inevitáveis, quando no campo físico, decorrem dos processos degenerativos da organização celular e fisiológica, sujeita aos mecanismos de incessantes transformações, como da invasão e agressão dos agentes microscópicos destrutivos.
No ser bruto, expressam-se em forma de desespero e alucinação, com altas crises de rebeldia. À medida que a sensibilidade se lhe acentua, não obstante a foca de que se revestem, podem ser atenuados pela ação da mente sobre o corpo gerando endorfinas, que, na corrente sanguínea, anestesiando-os, diminuem-lhes a intensidade.
Os morais são mais profundo, abalam os sentimentos nobres, dilacerando as fibras íntimas e provocando incontida aflição. Impalpáveis, as suas causas permanecem vigorosas, minando as resistências e, não raro, afetando, por somatização, o corpo atuam nos sensíveis mecanismos das emoções, dando lugar a outros distúrbios, os de natureza psicológica. Somente uma forte compleição espiritual se lhes poderá opor, ensejando energias próprias para suportá-los e superá-los.
A canalização correta do pensamento, isto é, a racionalização deles e aceitação como processo transitório de evolução, torna-se-lhes a terapia mais eficiente, por propiciar renovação íntima e equilíbrio.
Os de natureza emocional, qual sucede com os demais, têm suas matrizes nas existências passadas, que modelam, nos complexos equipamentos do sistema nervoso, na organização sensorial, por intermédio da hereditariedade, a sensibilidade e as distonias que se exteriorizam como distúrbios psicológicos, psíquicos. Face à anterioridade das suas origens, produzem aflições no grupo social, por motivo da alienação do paciente, agressivo ou deprimido, maníaco ou autista, inseguro ou perseguidor. Somem-se ao fator central, as ressonâncias psicossociais, sócio-econômicas e as interferências obsessivas que darão lugar a quadros patológicos complexos e graves, sem que o enfermo possa contribuir com lucidez para a recuperação. Há exceções, quando as ocorrências permanecem sob relativo controle, facultando erradicação mais rápida.
Os de natureza espiritual têm a sua gênese total no pretérito, às vezes somadas às atitudes irrefletidas na atualidade. Invariavelmente trazem conexões com seres desencarnados em processos severos de deterioração da personalidade.
Em qualquer manifestação, os sofrimentos são efeitos do mecanismo evolutivo – desgaste dos implementos orgânicos -, da aprendizagem de novas experiências, da ascensão do ego para o self. Enquanto o ego predominar em a natureza humana, maior soma deles se fará presente, faze à irreflexão, à imaturidade psicológica, ao desajuste em relação aos valores da personalidade.
Os conflitos, que decorrem de alguns sofrimentos ou que levam a outros tipos de sofrimentos, no ego imaturo encontram mecanismos de evasão da realidade, dando surgimento a patologias especiais.
A pretexto de ascensão moral e espiritual são engendrados distúrbios masoquistas, fazendo crer que a eleição do sofrimento auxilia na libertação da carne – cilícios, jejuns injustificáveis, macerações, solidão, desprezo ao corpo, castrações, etc – refletindo, não a busca do Si, mas um prazer degenerado, perturbador. Outrossim, quando se impõem os mesmos métodos a outros seres, a pretexto de salvá-los, não há saúde mental nem espiritual na proposta, mas sim, sadismo, cruel.
O amor lenifica a multidão de pecados, como acentuou Jesus, com a Sua psicoterapia positiva. Ele sofreu, não por desejo próprio, mas para ensinar superação das dores, e, ao jejuar, preparou o organismo para bem suportar os testemunhos morais. Ele encontrava beleza e prazer nos lírios do campo, nas aves do céu, nas redes e pérolas, sendo a Sua mensagem um hino de louvor à vida, à saúde, ao amor. Jamais se reportou à busca do sofrimento como recurso de salvação. Esse acontece por efeito da conduta humana, inevitavelmente, não por escolha de cada um.
A vida são as expressões de grandiosa harmonia na variedade de todas as coisas.
O ser humano existe, fadado para a conquista estelar. A saúde plena e o não-sofrimento são as metas que o aguardam no processo de conquista pelos longos caminhos de sua evolução.
A canalização da mente para o bem – o ideal, o amor – é o antídoto para todos os sofrimentos, porquanto do pensamento para medeia apenas o primeiro passo.
Do livro: AUTODESCOBRIMENTO UMA BUSCA INTERIOR
Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis