Essa faculdade de representar um ato que pode ou não ser praticado, como definem os bons dicionaristas, a vontade tem que ser orientada mediante a disciplina mental, trabalhada com exercícios de meditação, através de pensamentos elevados, de forma que gerem condicionamento novo, estabelecendo hábito diferente do comum.
Necessariamente são indispensáveis vários recursos que auxiliam a montagem dos equipamentos da vontade, a saber: paciência, perseverança, autoconfiança.
A paciência ensina que todo trabalho começa, mas não se pode aguardar imediato término, porque, conquistada uma etapa, outra surge desafiadora, já que o ser não cessa de crescer. Somente através de um programa cuidadoso e continuado logra-se alcançar o objetivo que se busca.
Tranquilamente se processa o trabalho de cada momento, abrindo-se novos horizontes que serão desbravados posteriormente, abandonando-se a pressa e não se permitindo afligir porque não se haja conseguido concluí-lo.
A paciência é recurso que se treina com a insistência para dar continuidade a qualquer empreendimento, esperando-se que outros fatores, que independem da pessoa, contribuam para os resultados que se espera alcançar.
Esse mecanismo é todo um resultado de esforço bem direcionado, consistindo no ritmo do trabalho que não deve ser interrompido.
Lentamente são criados no inconsciente condicionamentos em favor da faculdade de esperar, aquietando as ansiedades perturbadoras e criando um clima de equilíbrio emocional no ser.
Como qualquer outra conquista, a paciência exige treinamento, constância e fé na capacidade de realizar o trabalho, como requisitos indispensáveis para ser alcançada. Evita exorbitar nas exigências do crescimento íntimo, no começo, elaborando um programa que deve ser aplicado sem saltos, passo a passo, o que contribui para os resultados excelentes, que abrirão oportunidade a outras possibilidades de desenvolvimento pessoal.
Surge, então, a perseverança como fator imprescindível à disciplina da vontade.
A perseverança se apresenta como pertinácia, insistência no labor que se está ou se pretende executar, de forma que não se interrompa o curso programado. Mesmo quando os desafi9os se manifestam, a firmeza da decisão pela consciência do que se vai efetuar, faculta maior interesse no processo desenvolvido, propondo levar o projeto até o fim, sem que o desânimo encontre guarida ou trabalhe desfavoravelmente.
Somente através da perseverança é que se consegue amoldar as ambições aos atos, tornando-os realizáveis, materializando-os, particularmente no que diz respeito àqueles de elevada qualidade moral, que resultam em bênçãos de qualquer natureza em favor do espírito.
Quando não iniciado no dever, o indivíduo abandona os esforços que deve envidar para atingir as metas que persegue. Afirma-se sem o necessário valor moral para prosseguir, não obstante,quando se direciona para o prazer, para as acomodações que lhe agradam o paladar do comportamento doentio, deixa-se arrastar por eles, deslizando nos resvaladouros da insensatez, escusando-se à luta, porque, embora diga não se estar sentindo bem, apraz-lhe a situação, em mecanismo psicopatológico masoquista.
É conquista da consciência desperta o esforço para perseverar nos objetivos elevados, que alçam o ser, do parasitismo intelectual e moral, ao campo no qual desabrocham os incontáveis recursos que lhe dormem no mundo íntimo, somente aguardando o despertamento que a sua vontade proponha.
Como qualquer outro condicionamento, a perseverança decorre da insistência que se impõe o indivíduo, para alcançar os objetivos que o promovem e o dignificam. Ninguém existe sem ela ou incapaz de consegui-la, porque resulta apenas do desejo que se transforma em tentativa e que se realiza em atitude contínua de ação.
Da conquista da paciência, face à perseverança que a completa, passa-se à autoconfiança, à certeza das possibilidades existentes que podem ser aplicadas em favor dos anseios íntimos. Desaparecem o medo e os mecanismos autopunitivos, auto-afligentes, que são fatores dissolventes do progresso, da evolução do ser.
Mediante essa conquista, a vontade passa a ser comandada pela mente saudável, que discerne entre o que deve o pode fazer, quais são os objetivos da sua existência na Terra e como amadurecer emocional e psicologicamente, para enfrentar as vicissitudes, as dificuldades, os problemas que fazem parte de todo o desenrolar do crescimento interior.
Nesse trabalho, a criança psicológica, adormecida no ser e que teima por ser acalentada, cede lugar ao adulto de vontade firme e confiante, que programa os seus atos trabalhando com afinco para conseguir resultados satisfatórios. Nessa empreitada ele não deseja triunfar sobre os outros, conquistar o mundo, tornar-se famoso, conduzir as massas, ser deificado, porque a sua é a luta para conquistar-se, realizar-se interiormente, de cujo esforço virão as outras posses, essas de secundária importância, mas que fazem parte também dos mecanismos existenciais, que constituem o desenvolvimento, o progresso da sociedade, o surgimento das suas lideranças, dos seus astros e construtores do futuro.
Todo esse empreendimento resulta da vontade disciplinada, que se torna o mais notável instrumento de trabalho para a vitória da existência física do ser pensante na Terra.
Equipado por esses instrumentos preciosos, começa o novo ciclo de amadurecimento da criatura humana, que agora aspira à conquista do universo, porquanto o seu cosmo íntimo já está sendo controlado.
Do livro: VIDA: DESAFIOS E SOLUÇÕES
DIVALDO P. FRANCO/JOANNA DE ÂNGELIS