Auto-aceitação é um dos desafios que recebemos na vida. Ou vivemos como pessoas libertas do jugo alheio, ou aceitamos ser manipulados e viver afastados ou separados daquilo que sentimos e pensamos.
Quando aceitamos a nós mesmos, eliminamos as amarras de doentia dependência que nos vinculam aos outros, cujos costumes, crenças e valores não são os nossos. E reconhecemos que podemos viver e nos relacionar respeitando o modo de ser deles, da mesma forma que devemos respeitar a nossa individualidade e liberdade de pensamento, sem nenhum receio de discriminação ou isolamento.
Uma das maiores preocupações de certas pessoas é o que os outros poderão pensar a respeito delas. Fixam seu estado de ânimo na volubilidade das atitudes alheias, nas opiniões ou pontos de vista instáveis da coletividade.
O valor e a importância que essas criaturas atribuem a si próprias oscilam de conformidade com o juízo mutável e vacilante das massas, visto que elas se estruturam sobre um padrão de personalidade ciclotímico – caracterizado por períodos de alegria exagerada e hiperatividade, intercalados com outros de depressão, angústia e inércia.
Quanto mais no preocuparmos com a impressão que causam,os aos outros, menos descobriremos quem realmente somos. A propósito, o ardor do empenho que fazemos para ser valorizados é proporcional à desvalorização que sentimos por nós.
O que as pessoas pensam de nós é um problema delas; não podemos nos ver tal como os outros nos vêem, pois isso nos levará a viver alienados, ignorando os fatores psicológicos ou sentimentos e emoções que nos fazem agir perante a vida de acordo com nossos impulsos internos.
Querer parecer impecável diante dos outros é tarefa desgastante e desnecessária. Por mais que nos consumamos energeticamente no esforço de agradá-los, nunca faremos o suficiente para que eles nos vejam melhores ou piores do que realmente somos.
A esfera intelectual explica aquilo que sentimos, todavia ela pode racionalizar os sentimentos, criar álibis e disfarces que nos afastem da nossa verdade interior. Tenhamos em mente que não somos o que os outros pensam e, muitas vezes, nem mesmo o que pensamos ser; mas somos, verdadeiramente, o que sentimos. Aliás, os sentimentos revelam nosso desempenho no passado, nossa atuação no presente e nossa potencialidade no futuro.
Os bons dicionaristas definem reputação como conceito de que goza uma pessoa em seu grupo social. Reputar significa computar, contar, achar, julgar, considerar. Ou mesmo, avaliar e ter em conta o bom nome de alguém, ou julgar as pessoas como certas ou erradas.
Devemos dar mais importância e atenção à nossa consciência do que à nossa reputação. A consciência está ligada à soberania da Vida Superior, enquanto a reputação é condicionada ao caráter instável e temperamento vacilante dos seres humanos.
Milhões de criaturas crêem em coisas bem diferentes, porque ensinamentos diversos lhes foram transmitidos quando crianças. Coisas dessemelhantes foram ensinadas a crianças budistas, cristãs, xintoístas, muçulmanas e hinduístas. Se essas mesmas crianças forem chinesas, francesas, indianas, russas ou vietnamitas, cada uma delas crescerá com a firme convicção racial e religiosa de que estão certas e as outras, erradas. Ainda entre as mesmas religiões, há pontos de vista divergentes sobre os tratados teológicos ou doutrinários e, portanto, há dissensões.
A reputação está vinculada à moral social, às regras, valores, raça, tradição e costumes de uma era, época ou povo, enquanto a consciência está interligada às leis eternas e naturais de todos os tempos.
Quando as pessoas nos disserem alguma coisa sobre algo ou alguém, deveremos pensar de nós para nós mesmos: Será isso verdade para quem? Que tipo de prova existe? Há elementos mais claros e específicos para fazer essa avaliação? Será que as pessoas envolvidas crêem apenas por força da religião, tradição, autoritarismo ou revelação mística? Há elementos mais objetivos para apreciar essa atitude?
O espírito que animou o corpo de um homem, em nova existência, pode animar o de uma mulher, e vice-versa, pois na verdade, são os mesmos espíritos que animam os homens e as mulheres.
Cada individualidade traz consigo uma experiência única e particular na área sexual e, portanto, uma estrutura psicológica também específica, com particularidades masculinas e femininas. Em determinadas situações evolutivas, encarnamos como homem; em outras, como mulher. Em vista disso, a alma atravessa imensos estágios de aprendizagem e desenvolvimento na noite dos tempos, constituindo em sua intimidade o fenômeno da bissexualidade. Dessa maneira, homens e mulheres nada mais são do que espíritos imortais usando temporariamente uma vestimenta masculina ou feminina.
Ao julgarmos algo ou alguém, quase sempre emitimos pareceres ilusórios, não fundamentados em bases, razões e motivos sólidos. Pronunciamos uma sentença prematura de condenação ou de absolvição, sem conhecimento prévio de tudo o que vem ocorrendo na intimidade humana.
Não nos damos conta de que um julgamento arbitrário é o declínio do entendimento, da empatia, da complacência e da aceitação para com a nossa diversidade existencial, bem como para a das outras pessoas. O julgamento é o naufrágio da compreensão.
Ao alterarmos a nossa visão efêmera para uma visão de eternidade, mudamos a concepção de mundo cartesiano e simplista em que vivemos, alterando assim as conclusões equivocadas a respeito das pessoas e da vida. O normal, o anormal, o moral, o imoral, o natural e o não natural são relativos, mesmo quando se trata da configuração ou da aparência externa da matéria.
O mestre deixou claro que, para Deus, não havia eleitos – o reino dos céus era uma conquista comum a todos aqueles que cultivassem o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo. Essa convicção é que levou Paulo da Tarso a afirmar aos cristãos da igreja da Galácia: Deus não faz acepção de pessoas.
Do livro: OS PRAZERES DA ALMA - uma reflexão sobre os potenciais humanos
FRANCISCO DO ESPIRITO SANTO NETO/ESPÍRITO HAMMED