Existe uma
possibilidade, muito relativa, do homem conhecer seu futuro. As pessoas trazem
ao nascer, certas tendências, aptidões e qualidades inatas, cujas
manifestações, mais ou menos evidentes, que permitem prever, até certo ponto, o
que serão ou o que farão na vida.
Afora
isto, porém, tudo o mais será bem mais difícil, por duas razões:
Primeira:
grande parte de nossa sorte futura ainda não está nem poderia estar delineada,
semelhando-se a páginas em branco de um livro parcialmente anotado. É que se
todo sucesso tem uma causa, reciprocamente, cada causa produz determinado
efeito. Destarte, os acontecimentos porvindouros de nossa existência vão
depender do que estivermos fazendo agora, com as modificações provocadas por
aquilo que formos fazendo de instante a instante.
Segunda:
as circunstâncias a que chamaríamos inevitáveis, ligadas ao nosso carma
(débitos ou créditos perante a Justiça Divina, resultantes de nosso
procedimento em encarnações anteriores), por outro lado também não podem
ser-nos desvendadas, pois, se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria do presente
e não agiria com a liberdade com que o faz, porque o dominaria a idéia de que,
se uma coisa tem que acontecer, inútil será ocupar-se com ela, ou então
procuraria ob star a que acontecesse. Não quis Deus que assim fosse, a fim de
que cada um concorra para a realização das coisas, até daquelas a que desejaria
opor-se.
Algumas
vezes, entretanto, o futuro pode ser revelado, e o tem sido. É quando a
revelação favoreça a consumação de algo
em benefício da humanidade.
Importa
esclarecer, todavia, que, embora muitos fatos possam ser previstos, por
constarem dos planos das entidades espirituais que, como prepostos de Deus,
dirigem os destinos do mundo ou tem sob sua tutela este ou aquele setor das
atividades humanas, o livre arbítrio das pessoas diretamente ligadas a esses
fatos é sempre respeitado, de modo a que, em última instância, tenham plena
liberdade de cumprir ou não as tarefas que lhes estavam assinaladas, assim como
de resistirem ou cederem a um alvitre que poderá acarretar-lhes as mais dolorosas
conseqüências.
Isto
deixa claro que ninguém é constrangido, de forma absoluta, a obrar desta ou
daquela maneira, e que ninguém, jamais, há sido predestinado a praticar um
crime ou qualquer outro ato delituoso que envolva responsabilidade moral.
O
que sucede é que cada um é tentado segundo suas próprias concupiscências, o
ambicioso pode sucumbir ante uma situação que lhe exacerbe a cobiça, etc.
Sempre
que algo de suma importância deva necessariamente acontecer, e aquele ou
aqueles que seriam os possíveis agentes não se mostrem à altura, ou se tenham
desviado de modo próprio do caminho que os levaria a tal objetivo, as referidas
entidades espirituais sabem como encaminhar as coisas de maneira que outrem
lhes tomem o lugar, o mesmo acontecendo quando, inversamente, o desfecho é que
deva ser outro.
A
curiosidade que tantos demonstram em conhecer o seu futuro apresenta sérios
inconvenientes. Um deles, o de contribuir para que espertalhões sem escrúpulos
façam da astrologia, da cartomancia, da necromancia, da quiromancia, da
vidência, rendosos meios de vida. Outro, a sôfrega expectativa de um evento
feliz, a falta de iniciativa e de ação, julgadas desnecessárias, face à
segurança de um porvir próspero e venturoso, do que podem resultar terríveis
decepções, ou, ainda, o desespero, senão mesmo a loucura e o suicídio ante um
funesto presságio.
O
espiritismo, amiúde e injustamente confundido com as práticas adivinhadeiras,
saibam-no de uma vez por todas, não as utiliza nem as recomenda; pelo
contrário, desaconselha-as aberta e veementemente, pois, embora admita a
possibilidade de eventuais revelações do futuro, subordina-as a estas duas
condições:
1-
A espontaneidade;
2-
Um fim sério que justifique, em conformidade com
os desígnios providenciais.
Do Livro: As Leis Morais – Rodolfo Calligaris
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