Na questão de número 742 de O Livro dos Espíritos,
Kardec indaga sobre qual é a causa que leva o homem à guerra. Os espíritos
superiores nos ensinam o seguinte: “Predominância da natureza animal sobre a
natureza espiritual e satisfação das paixões. No estado de barbárie, os povos
não conhecem senão o direito do mais forte; por isso, a guerra é para eles um
estado normal. À medida que o homem progride, ela se torna menos frequente,
porque lhe evita as causas e, quando é necessária, sabe aliá-la à humanidade.”
Você acha que as guerras já acabaram? E se eu afirmar
que diariamente elas acontecem?
Basta procurarmos a definição do que seja uma guerra
no stricto sensu e no lato sensu. Em lato sensu, ou seja, em sentido amplo, a
guerra é a que nós conhecemos de um pais contra outro ou, até mesmo, uma guerra
civil. Em stricto sensu, ou seja, em sentido mais restrito, essa guerra
explode, infelizmente, todos os dias envolvendo pessoas. Os noticiários da
imprensa estão repletos desses exemplos lamentáveis. Nos dias atuais uma
senhora jovem foi executada por um grupo de pessoas que resolveram fazer
justiça com as próprias mãos. E a vítima era inocente. Em outro caso de grande
repercussão, uma menina de treze anos foi executada por outras duas
adolescentes por motivo fútil. E se fôssemos continuar a citar exemplos, o
espaço não daria para outros comentários. Na revista ISTO É, edição de número
2320, de 14/05/2014, páginas 64 a 66, encontramos um estudo de um sociólogo da
USP que nos revela dados alarmantes: um milhão de brasileiros participaram de
linchamentos nos últimos 60 anos; duas vezes por dia pessoas são linchadas ou
sofrem tentativas de linchamento no país. É a guerra particular que envolve
pessoas com uma carga muito grande de ódio dentro de si. Quando encontram um
motivo, por mais injustificável que seja, despejam sobre a vítima todo o fel
que trazem na alma. Essa é a guerra em seu stricto sensu, que ainda abunda
pelas sociedades nos mais diferentes países. É a guerra de cada um.
Ensina
Joanna de Ângelis que o ódio é o filho predileto da selvageria que permanece em
a natureza humana. Irracional, ele trabalha pela destruição de seu oponente,
real ou imaginário, não cessando, mesmo após a derrota daquele.
Muitas
vezes pensamos que o ódio capaz de tal destruição já nasce gigantesco como se
fosse um monstro devorador da paz alheia. Mas não. Esse ódio vai sendo
alimentado dia a dia através de pequenos desajustes que não percebemos um que
não valorizamos. Nasce frágil como uma primeira centelha de um grande incêndio.
Quando nos irritamos e discutimos no trânsito, ei-lo que está começando a
irromper pequenino dentro de nós. Quando nos desentendemos com um companheiro
no trabalho, ei-lo a dar os primeiros passos dentro de nós. Quando alimentamos
a discussão dentro do lar, eis aí a tentativa do ódio em nascer e crescer se
assim o permitirmos. Quando revidamos uma pequena ofensa, estamos
proporcionando ocasião para que o ódio capaz de destruir o outro ganhe espaço.
É a guerra particular de cada um.
Conforme
nos leciona Joanna de Ângelis, Amorterapia – eis a proposta de Jesus.
A
ignorância deve ser combatida e o ignorante educado.
O
crie necessita ser eliminado, mas o criminoso merece ser reeducado.
As
calamidades de quaisquer expressões precisam ser extirpadas, no entanto os seus
prepostos, na condição de doentes, aguardam amparo e cura.
O
amor não acusa, corrige; não atemoriza, ajuda; não pune, educa; não execra,
edifica; não destrói, salva.
Pitágoras,
há mais de 2500 anos afirmava o seguinte: “Enquanto o homem continuar a ser
destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a
saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns
aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria
e o amor.”
Não
é o que temos feito? Que nos perdoem aqueles que aqui não se incluam, mas a
grande maioria, infelizmente, veste a carapuça.
Contaminamos
rios; poluímos a atmosfera; dizimamos florestas em busca do dinheiro;
submetemos pela força os animais nas mais diferentes situações e pelos mais
diferentes motivos. São atitudes agressivas que nos conferem a sensação de
sermos todos poderosos, principalmente quando a impunidade acompanha com o seu
beneplácito tais atitudes. Nessa onda de tudo podermos, quando nos deparamos
com o semelhante à nossa frente que destoa da maneira como pensamos, ele corre
o risco de ser atropelado com a mesma sensação de poder com que viemos
agredindo os outros reinos da Criação. É a guerra de cada um. É a guerra em seu
stricto sensu. Tão devastadora para o seu autor como a outra guerra, a que
envolve a muitas pessoas que s e atracam porque deixaram crescer dentro de si
as pequeninas cargas de ódio que foram minando o amor que deveria ter
florescido no sentimento de cada um. A guerra ainda está por aí procurando
abrigo nos corações invigilantes. E a guerra de cada um que deveria ser contra
si mesmo, contra as suas imperfeições, mas que, infelizmente, se volta contra o
próprio semelhante a quem deveríamos amar como a nós mesmos.
Ricardo Orestes Forni
Fonte: Jornal
Espiritismo Estudado – julho/2014
imagem: google
2 comentários:
Boa análise do Forni, no entanto, a guerra em
Beijos.
continuando
latu sensu continua acontecendo.
Pena, não?
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