Porque se fantasia a existência terrena com quimeras
e sonhos, a realidade, desfazendo essa imagem infantil, leva ao sofrimento
todos aqueles que, imaturos, confiaram em demasia na transitoriedade das formas
e da apresentação física, das promessas de afeto imorredouro e de fidelidade
perpétua, de alegria sem tristeza e meio-dia sem crepúsculo no fim da jornada.
Assim, a morte da ilusão fere aqueles que lhe confiaram
a existência, entregando-se-lhe sem reserva, sem precaução.
A ilusão é, pois, anestésico para o espírito.
Certamente, algo de fantasia emoldura a vida e dá-lhe
estímulo. Entretanto, firmar-se nos alicerces frágeis da ilusão, buscando aí
construir o futuro, é pretender trabalhar sobre areia movediça ou solo
pantanoso coberto por água tranquila apenas na superfície.
Há quem postergue a realidade, evitando-a, para não
sofrer. E existem aqueles que pretendem apoiar-se no realismo rude, que não
passa, muitas vezes, de outra forma errônea de ilusão.
A consciência da realidade resulta da observância dos
acontecimentos diários, da transitoriedade do chamado mundo objetivo e de uma
análise tranqüila e lúcida a respeito do que é verdadeiro em relação ao aparente,
do essencial ao secundário, e sucessivamente.
A compaixão por si mesmo – amor a si próprio –
faculta a visão realista, sem agressão, dos objetos da existência terrena,
impulsionando a compaixão pelo seu irmão – amor ao próximo – solidarizando-se com a sua luta e dando-lhe a mão amiga, a fim de
sustentá-lo ou erguê-lo para que prossiga na marcha.
Essa atitude, ao invés de produzir uma postura
pessimista, cética, amargurada, resultante da morte da ilusão, alenta e
engrandece, dando sentido e significado a todos os acontecimentos.
Por isso, a compaixão se torna fator que faz cessar
os sofrimentos, como resultado natural dos outros passos, partindo da emoção
para a ação.
Apresenta-se, então, no painel do comportamento, a
necessidade de agir com inteireza, com abnegação, transformando os propósitos
mantidos em realização enobrecedora.
Todas as experiências humanas constituem formas de
amadurecimento da criatura. Algumas decorrem dos deveres imediatos e são comuns
a todos, constituindo a sua vivência um fenômeno natural, sem o qual se
experimenta inevitável alienação, com todas as suas conseqüências perniciosas.
O fato de participar do contexto social, mesmo que
sem gestos incomuns ou de arrebatamento, equipa o indivíduo com recursos
emocionais que lhe trabalham a existência, aformoseando-a com estímulos
crescentes para o seu prosseguimento.
(continua)
Fonte: PLENITUDE
Divaldo Pereira
Franco/Joanna de Ângelis
imagem: google
Um comentário:
Muito fantasio e até acalento sonhos
megalomaníacos, mas sempre discriminando
entre sonho e realidade.
Algumas de minhas fantasias extrapolam-se
em criações literárias, se não fosse
o fantasiar o que seria dos autores?
O problema é confundir o que se sonha
com os deveres do dia a dia.
Beijos.
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