Deslocamento
A consciência exerce sobre a pessoa
um critério de censura, face ao discernimento em torno do que conhece e
experiencia, sabendo como e quando se pode fazer algo, de maneira que evite
culpa. Nesse discernimento lúcido, quando surge um impulso que a censura da
consciência proibe apresentar-se
sem reservas, o ego produz um deslocamento.
Freud havia identificado essa
capacidade de censura da consciência, que situou como superego.
Quando se experimenta um sentimento
de revolta ou de animosidade contra alguém ou alguma coisa, mas que as
circunstâncias não permitem expressar, o ego desloca-o para reações de
violência contra objetos que são quebrados ou outras pessoas não envolvidas na
problemática.
Na antiga arena romana ou nos atuais
ringues de boxe se traduzem esses sentimentos recalcados, contra a vítima
momentânea, deslocando a fúria oculta, que se mantém contra outrem, nesse ser desamparado.
Subconscientemente, a pessoa que
apóia o dominador e pede-lhe para extinguir o contendor, mantém hostilidade
que reprime, impossibilitada pelas convenções sociais ou circunstanciais de
exteriorizá-la.
A hostilidade da criatura leva-a a
reagir sempre através de motivos reais ou imaginários. Um olhar, uma palavra
malposta, uma expressão destituída de mais profundo significado, são
suficientes para provocar um deslocamento, uma atitude agressiva.
Face a essa postura, há uma
tendência para camuflar os significados perturbadores da vida.
Ao reprimi-los, adota-se um
comportamento agradável para o ego. Esse mecanismo é de fácil identificação,
pois que o ego procura uma vivência de qualquer acontecimento sem sentido, para
ocultar um grave problema que não deseja enfrentar conscientemente.
Essa reação pode decorrer, também,
de um ambiente hostil no lar, onde a pessoa se acostumou a deslocar os sentimentos que cultivou,
na convivência doméstica, e não deseja reconhecer como de natureza agressiva.
Somente uma atitude de auto-reflexão
consegue despertar o indivíduo para a aceitação consciente do seu self, sem disfarce do ego, não
deslocando reações para outrem e lutando contra as perturbações psicológicas.
(continua)
O SER CONSCIENTE - Divaldo Pereira Franco/Joanna de
Ângelis
Nenhum comentário:
Postar um comentário