Poucos realmente entendem o sentido que a expressão
bem-aventurado tem no discurso do Mestre Jesus, até porque é muito difícil esta
compreensão para quem, com os pés fincados numa única existência e num mundo
materialista como este nosso, acredita que ser bem-aventurado é sinônimo de ser
feliz. Dentro do axioma “ler Kardec, para entender Jesus”, o estudo da doutrina
espírita, que alarga nosso campo de visão para além desta vida e nos faz
compreender e aceitar as múltiplas encarnações, nos oferece a releitura das
bem-aventuranças, percebendo que Jesus deixa expresso na sua alocução a ideia
clara da imortalidade da alma, ensinando, todavia, que o universo é regido pela
lei de causa e efeito. Ambos os pilares doutrinários, casualidade e
imortalidade da alma, ampliam o nosso entendimento e, neste contexto, obtemos a
chave para abrirmos o baú dos mistérios da fé. Portanto, entendendo que as
aflições não são castigos divinos e muito menos pragas lançadas aleatoriamente
pelo Criador para provocar o arrependimento de suas criaturas, compreendemos
perfeitamente que a justiça divina é incorruptível e se alicerça na expressão
“à cada um, segundo suas obras”.
Por intermédio do estudo do pentateuco de Kardec,
fica fácil entender porque uns vivem na opulência e outros na miséria. Nada de
privilégios, apenas mecanismos disponibilizados pela bondade divina, para nos
reconduzir ao caminho da redenção e da reforma íntima. Quem se locupletou na
avareza e amealhou fortunas escravizando seu irmão, nada mais justo que agora
experimente a provação e a dor de não enriquecer. Da mesma forma, porém, o
consolo de saber que o espírito que já aprendeu a usar o dinheiro em prol do
progresso da sua comunidade, não mais precisará passar pela prova da pobreza, a
não ser que desejar para cumprir determinada missão. Portanto, se sofro agora e
me mantenho resignado e confiante de que esta prova é para meu bem,
bem-aventurada esta dor, porque me proporcionará mais venturosa minha próxima
reencarnação.
De posse deste conhecimento, a imensa injustiça que
vige entre os homens na Terra adquire para nós um outro contorno. Deixamos de
acreditar que tudo que nos rodeia, inclusive nossos sentimentos, emoções,
inteligência, criatividade, etc, provêm da própria matéria ou do cérebro ao
aceitar a existência de Deus e n’Ele depositarmos nossa fé e total confiança,
vamos finalmente compreender a maravilhosa resposta dada pela espiritualidade
maior à Kardec, na pergunta primeira de O Livro dos Espíritos, revelando o que
é Deus, reconhecendo-o como a causa primária de todas as coisas. Sendo Deus
soberanamente justo, toda aflição humana é efeito de uma causa humana e, por
isso, não há como atribuir a Ele a injustiça dos homens, como bem esclarece
Kardec, no capítulo V do Evangelho Segundo o Espiritismo, quando revela que “as
vicissitudes da vida têm pois, uma causa, e como Deus é justo, essa causa deve
ser justa”. Concluindo, no mundo não existem vítimas e nem sofredores
inocentes.
Orlando Ribeiro
Fonte: Jornal
Espiritismo Estudado – abril/2016
imagem: google
Nenhum comentário:
Postar um comentário