A
jovem reclamava sofrer a perseguição de um Espírito que não a deixava em paz.
Ideias infelizes, sentimentos negativos, angústia, tristeza, denunciavam a
presença da entidade malfazeja.
E
apelava, aflita, dirigindo-se a Chico Xavier:
–
Não suporto mais essa pressão! Minha vida está se transformando num inferno. O
que devo fazer para libertar-me desse obsessor que me deixa agoniada?
O
médium, com a delicadeza que o caracterizava, respondeu, bem-humorado:
–
Trabalhe, minha filha. Trabalhe muito, até desfalecer. Quando a gente desmaia
de cansaço o obsessor não consegue nos envolver…
O
comentário do médium lembra o velho ditado:
Mente
vazia é forja do demônio.
Quando
não temos o que fazer, afloram as tendências inferiores, favorecendo a sintonia
com Espíritos que nos perturbam.
Nossa
defesa, portanto, é o trabalho, que disciplina a mente, mantendo-a ocupada, sem
aberturas para as sombras.
Na
questão 683, de O Livro dos Espíritos, interroga Allan Kardec:
Qual
o limite do trabalho?
A
resposta é surpreendente:
“O
das forças. Em suma, a esse respeito Deus deixa inteiramente livre o homem.”
Dirá
você, leitor amigo, que o mentor mais parece diligente representante dos
patrões!
Trabalhar
até a exaustão lembra os primórdios da Revolução Industrial, no século XVIII,
quando havia jornadas de trabalho de dezesseis horas, mal sobrando tempo para o
repouso.
Sossegue!
Não é esse o sentido da sua observação.
Trabalho
é toda iniciativa que representa atividade disciplinada.
Ao
escrever estas linhas estou exercitando um trabalho de produção literária.
Meus
filhos, na escola, exercitam o trabalho de aprendizado.
A
serviçal doméstica, nos afazeres do dia, exercita um trabalho braçal.
O
profitente religioso, em oração, exercita um trabalho espiritual.
O
voluntário da obra assistencial, atendendo a família carente, exercita um
trabalho de filantropia.
O
importante, em favor de nossa estabilidade, é estar sempre ativo, considerando
que todo processo obsessivo tende a instalar-se na hora vazia.
Não
é por outra razão que há nos hospitais psiquiátricos núcleos de praxiterapia,
literalmente a terapia do trabalho, oferecendo ocupação aos pacientes, a qual,
associada à medicação, favorecerá sua recuperação.
Quando
falamos em influências espirituais, imperioso considerar que se há Espíritos
interessados em nos envolver e prejudicar, há também os que procuram nos
ajudar.
E se os maus são atraídos pela ociosidade, os bons
aproximam-se na medida em que nos vejam ativos, principalmente quando
cultivamos iniciativas no campo do Bem, o mais nobre de todos os serviços.
Quanto
maior o nosso empenho em servir o próximo, mais ampla a atenção de Benfeitores
espirituais, interessados em nos utilizar como instrumentos para abençoadas
tarefas em favor dos sofredores de todos os matizes.
Por
isso, a par do tratamento espiritual, com passes magnéticos, reuniões de
desobsessão, vibrações, orientação de leitura, cursos, é fundamental que o
Centro Espírita crie uma estrutura de serviços em favor da multidão carente e
sofredora, que constitui boa parcela da população, em qualquer cidade.
E
que se vinculem a esses serviços as pessoas que se queixam da falta de
motivação, apáticas, depressivas, comprometidas com a inércia.
Abençoada
seja a exaustão física que venhamos a experimentar nesse empenho, a situar-se
como vigoroso exercício que fortalece os músculos da alma, habilitando-nos a
resistir às incursões das sombras.
Richard Simonetti
Fonte: Reformador –
março/2006
imagem: google
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