Questão de alta complexidade para a
criatura humana, o dualismo do bem e do mal encontra-se ínsito na sua
psicologia interior, confundindo-a e perturbando-lhe, não raro, o
discernimento.
Com características metafísicas, na
sua formulação abstrata, essa dualidade concretiza-se nos atos do ser, gerando
fenômenos relevantes de consciência, que contribuem para o equilíbrio ou a
desordem psíquica, de acordo com as suas respectivas manifestações.
Em todos os períodos da cultura
ancestral encontramos o esforço da religião e do pensamento tentando
estabelecer os paradigmas em que se apóiam um e outro, para melhor explicá-los.
Das concepções pretéritas à
realidade presente, filosoficamente o bem é tudo quanto fomenta a beleza, o
ético, a vida, consoante a moral, e o mal vem a ser aquilo que se opõe ao
edificante, ao harmônico, ao bem.
Sociologicamente o bem contribui
para o progresso, e todas as realizações que promovem o ser, o grupo social e
o ambiente expressam-lhe a grandeza, a ação concreta que resulta da capacidade
seletiva de valores éticos para a harmonia e a felicidade.
Como efeito, o mal decorre de todo e
qualquer fenômeno que se opõe ou conspira contra esse contributo superior.
A Psicologia não poderia ficar
indiferente a essa dualidade que existe no ser humano, remanescendo como as
suas aspirações de crescimento e elevação, do nobre e equilibrado, do saudável
e propiciador de paz.
Ao mesmo tempo, o atavismo dos instintos agressivos propele-o para
a violência — quando deseja possuir —, para o vilipêndio — quando se sente
diminuído —, para o grotesco e vulgar — quando derrapa no menosprezo de si
mesmo...
Desenvolvendo, no entanto, a
consciência que sai do torpor de nível
de sono sem sonhos, imediatamente começa a perceber os valores que
compensam e os que conflitam o comportamento psicológico, impulsionando-o,
embora lentamente, para a adoção de conduta mental e física, idealista e
comportamental do bem, tornando-se instrumento útil no grupo social, que se
promove e eleva-o a estágio superior, permitindo-lhe aspirar sempre a mais e
melhor.
Esse discernimento, que resulta da
consciência em libertação dos condicionamentos escravizadores, amplia a
capacidade para identificar o bem e o mal, predispondo-o à eleição do primeiro
em detrimento do outro.
Se, por acaso, incorre em equívocos
de seleção e tomba nas malhas do mal, mesmo que sob as circunstâncias perturbadoras
do ódio, do medo, da angústia, da volúpia, da desordem interior, ao
descobrir-se em falta, faz o quadro de consciência
de culpa e sofre as patologias afugentes, que se lhe tornam mecanismos
reparadores.
Afirma-se, porém, que a linha
divisória entre o bem e o mal é tão fluida e oscilante que, não raro, o bem de
hoje torna-se o mal de amanhã e vice-versa, numa dialética sofista, que se
poderia considerar anárquica...
Certamente, muitos códigos e leis,
de acordo com as conveniências de grupos e castas, de partidos e raças, de
religiões e credos, por questões imediatistas, tentam tornar legais
comportamentos que não são morais e, reciprocamente, justificando-se atitudes
vulgares e tentando liberar-se comportamentos alienados, condutas extravagantes
e arbitrárias.
O Decálogo moisaico, no entanto,
sintetiza os códigos moral e legal, portanto, o que é bem e o que é mal,
havendo facultado a Jesus afirmar, em grandiosa proposta, toda a complexidade
desse fenômeno dual: — Não fazer a
outrem o que não deseja que ele lhe
faça.
Porque ainda injustos os homens, as
leis que elaboram possuem os seus parcialismos, defecções, devendo ser
respeitadas, sem que a algumas delas se atribuam reais valores morais,
significativos e definidores do bem e do mal.
O bem e o mal estão inscritos na
consciência humana, em a natureza, na sua harmoniosa organização que deu
origem à vida e a fomenta.
Tudo quanto contribui para a paz
íntima da criatura humana, seu desenvolvimento intelecto-moral, é-lhe o bem
que deve cultivar e desenvolver, irradiando-o como bênção que provém de Deus.
E esse mal, aliás transitório,
temporal, que o propele às ações ignóbeis, aos sofrimentos, é remanescente
atávico do seu processo de evolução, que será ultrapassado à medida que
amadureça psicologicamente, e se lhe desenvolvam os padrões de sensibilidade
e consciência para adquirir a integração no Cosmo, liberado das injunções
dolorosas, inferiores.
O SER CONSCIENTE - Divaldo Pereira Franco/Joanna de
Ângelis
Um comentário:
Uma bela mensagem que nos mostra uma luta constante, onde devemos perseverar para que o bem sempre se destaque.
Beijos.
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