Invariavelmente,
o par da relação afetiva deixa só para momentos magnos os cuidados que deveria
oferecer no continuum do relacionamento, esquecido de que qualquer intercâmbio
sentimental assenta-se na tecedura do cotidiano. E, no caso da conjugalidade, essa
necessidade assume caráter solene, em razão da especificidade desse tipo de
vinculação amorosa, que implica muito tempo de convivência, aliada a uma grande
proximidade física e emocional. Resulta que, se o casal não cuidar da
interação, será inevitável o envenenamento, redundando na futura morte da união
conjugal.
Portanto,
não são os momentos pontuais que fazem a concretude de uma relação:
aniversário, dia dos namorados, dia da mulher, aniversário de bodas. Estes são
arremates para a consolidação do dia a dia.
O
cotidiano tratado como celebração, como evento momentoso, empresta ao
relacionamento a argamassa fixadora para uma relação crescente, evolutiva.
Logo,
é importante a comemoração das datas convencionais; porém, isto tem efeito
paradoxal quando não existe a sacralização dos dias laicos.
Não
tem ressonâncias a dádiva, o presente, ofertado no aniversário de casamento, se
o dia a dia não é observado como uma dádiva.
A
energia monetária colocada numa jóia, num automóvel, como demonstração de amor,
é insuficiente para convencer e suprir a ausência dessa afetividade, quando ela
não é alocada nos dias comuns.
Por
isso, além das circunstâncias de datas singulares, deve-se também comparecer
com um toque especial nos dias rotineiros, para que a vida seja brilhante.
Mais
do que surpresas em dias festivos convencionais, devemos estabelecer a surpresa
do reencontro nos dias profanos.
Aqui
não se trata de proposta de relações idealizadas entre cônjuges vivendo o
paraíso dos sonhos romanescos. Ao contrário, fala-se de uma convivência feita
de desafios, lutas, ajuste de diferenças, circunstâncias próprias de um par
amoroso. Eis, então, o desafio de tornar sagrados todos esses momentos ditos
negativos, adotando uma forma criativa de lidar com eles, facultando que o
relacionamento seja grande, amoroso, profundo, sagrado.
É
nos embalos e embates diários que construímos o monumento do acasalamento.
Quando
embalamos o relacionamento valendo-nos da canção do cuidar com atos pequenos –
porque são pequenas grandes coisas que fundamentalmente afetam as relações – a
pessoa amada se impregna de respeito, ternura, autoestima, e assim, fica
estimulada a devolver ao outro o tratamento recebido numa reciprocidade
automática, garantindo, desse modo, a circulação da energia amorosa capaz de
impedir que os embates se transformem em combates, duelos desnecessários à
conjugalidade.
Fonte: CASAMENTO: A ARTE DO REENCONTRO – ALBERTO
ALMEIDA
imagem: google
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