(Chico Xavier)
“O poema “Romance na Vida” foi recebido em nossa reunião pública. O
Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu o item 8 de seu capitulo XIV e O
Livro dos Espíritos a questão 372 para estudo.
“Feitos os comentários por companheiros presentes, quem se comunicou
foi o poeta Alphonsus de Guimaraens, doando-nos a peça poética que passo as
suas mãos. Consideramo-la adequada e comovente.
“Com surpresa, porém, na manhã seguinte a reunião, ao sair de
casa, fomos procurados por uma senhora que nos trouxe o filhinho com necessidades especiais para conhecermos, solicitando o amparo do Dr. Bezerra de Menezes em seu favor.
“Essa senhora, em quase penúria, disse-nos haver estado presente
na reunião publica da véspera; só não trouxera o pequeno enfermo por ter
chegado já muito tarde, procedente de Ouro Preto. Deixara o doentinho em
descanso numa pensão.
“Conquanto muito sofredora, prestara atenção a mensagem e viera
pedir uma cópia.
“Comovi-me muito e fiquei meditando no assunto.”
* * *
NOTA – O item 8 do capitulo XIV de O Evangelho Segundo o
Espiritismo trata do parentesco corporal e espiritual, mostrando que
os Espíritos não se ligam pelos chamados laços de sangue, mas por
afinidades espirituais. O item 372 de O Livro dos Espíritos consiste na
seguinte pergunta de Kardec: “Qual o objetivo da Providencia
ao criar seres desgraçados como os cretinos e os idiotas?”. A resposta dos Espíritos
é a seguinte:
“São os espíritos em
punição que vivem em corpos de idiotas. Esses Espíritos sofrem com o
constrangimento a que estão sujeitos e pela impossibilidade de manifestar-se
através de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos”.
Romance na vida
(Alphonsus de
Guimaraens)
No campo, em que o luar
engrinalda a escumilha,
O par freme de amor, a
noite dorme e brilha.
Ele, o poeta aldeão, era
humilde pastor;
Ela, a fidalga, expunha
a mocidade em flor.
Ao longe da mansão,
quantos beijos ao vento!…
Quantas juras de afeto a
luz do firmamento!
Em certa noite, a eleita
envia antigo pajem
Que entrega ao moço
ansioso imprevista mensagem.
“Perdoe – a carta diz –
se não lhe fui sincera
Desposarei agora o homem
que me espera.
“Nunca deslustrarei o
nome de meus pais.
Nosso amor foi um sonho…
Um sonho. Nada mais.”
Chora o moço infeliz,
sem ninguém que o conforte,
Surdo a razão, anseia
arrojar-se na morte.
Corre a choca de taipa.
A gesto subitâneo,
Arma-se em desespero e
arrasa o próprio crânio.
Foi-se o tempo… E, no
Além, o menestrel suicida
Era um louco implorando
um novo corpo a vida.
Um dia, a castelã, no
refúgio dourado,
Morre amargando, aflita,
as lições do passado.
Pendem alvos jasmins do
féretro suspenso,
Filhos clamam adeus em
volutas de incenso.
Largando-se, por fim,
dos enfeites de prata,
Sente-se agora a dama
envilecida e ingrata.
Lembra o campo de
outrora e o pobre moço aldeão,
Pede para revê-lo e
rogar-lhe perdão.
Encontra-o, finalmente,
em vasta enfermaria,
Demente, cego e mudo em
angústia sombria.
Ela suporta em pranto a
culpa que a reprova,
Quer voltar para a Terra
e dar-lhe vida nova.
A eterna Lei de Amor no
amor se lhe revela,
Retorna ao corpo denso
em aldeia singela.
Hoje, mãe a sofrer,
fina-se, pouco a pouco,
Carregando no colo um
filho mudo e louco…
E enquanto o enfermo
espraia o olhar triste e sem brilho,
Ela vive a rogar: “Não
me deixes, meu filho!…”
O romance prossegue e os
momentos se vão…
Bendita seja a dor que
talha a perfeição.
Nas montanhas de Minas
(J. Herculano Pires)
Chico não sabia da presença da mãe infeliz na sessão. A mãe, entretanto,
apesar de sua situação de miséria e aparente ignorância, captou no poema a sua
própria historia, vivida em encarnação anterior, nos tempos medievais. E assim
que a verdade oculta se revela para os que tem, como ensinava Jesus, olhos de ver
e ouvidos de ouvir. Na solidão das montanhas de Minas uma tragédia europeia
veio ter o seu desfecho em nossos dias. E o poeta dos amores tristes, que
nasceu, viveu e morreu em Ouro Preto, incumbiu-se de revela-lo em seus versos
límpidos, perfeitos, carregados da mesma melancolia que impregna toda a sua
musa, usando agora a psicografia de Chico Xavier.
Fonte: Na Era do
Espírito – Chico Xavier/José Herculano Pires
imagens: google
Um comentário:
A maioria das pessoas, Denise, ignora que tudo tem uma razão de ser...
A cada momento criamos o nosso destino.
Bela mensagem.
Abraços!
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