O desejo é um corcel desenfreado que produz danos e
termina por ferir-se, na sua correria insana.
A primeira demonstração de lucidez e equilíbrio da
criatura é a satisfação ante tudo quanto a vida lhe concede. Não se trata de
uma atitude conformista, sem a ambição racional de progredir, mas, sim de uma
aceitação consciente dos valores e recursos que lhe chegam, facultando-lhe
harmonia interior e bem-estar na área dos relacionamentos, no grupo social no
qual se situa.
Toda vez que o desejo exorbita, gera sofrimento, em
razão de tornar-se uma emoção perturbadora forte, que desarticula as delicadas
engrenagens do equilíbrio.
Febre voraz, o desejo faz arder as energias,
aniquilando-as. Sempre se transfere de uma para outra área, por conduzir o
combustível da insatisfação. Males incontáveis se derivam de sua canalização
equivocada, face às suas nascentes no egoísmo, este câncer do espírito,
responsável por danos contínuos no processo da evolução do ser.
Mesmo na realização edificante, o desejo tem que ser
conduzido com equilíbrio, a fim de não impor necessidades que não correspondam
à realidade. O ideal do bem, o esforço por consegui-lo expressam-se de forma
saudável quão gratificante, tornando-se estímulo para o desenvolvimento
constante dos germes que dormem na criatura, aguardando a eclosão dos fatores
que lhe são propriciatórios.
Como o efeito do desejo, o ofuscamento, que decorre
da presunção e do orgulho, é causa de sofrimentos, em razão do emaranhado de
raízes na personalidade do homem ambicioso e deslumbrado.
As ilusões da prosperidade econômica e social,
cultural e política induzem o insensato ao ofuscamento, por permitirem-lhe
acreditar-se superior aos demais, inacessível ao próximo, colocando barreiras
no relacionamento com as outras pessoas que lhe pareçam de menor status, qual
se estas lhe ameaçassem a situação de destaque. Ignoram os fenômenos biológicos
inevitáveis da enfermidade, velhice e morte, ou anestesiam a consciência para
não pensarem nas ocorrências do insucesso, da mudança de situação, das
surpresas do cotidiano.
Todos esses fatores são motivos de sofrimento, quando
se pretende manter a posição de relevo, quando se teme perdê-la e quando isso
acontece.
O ofuscamento desgoverna inumeráveis existências que
se permitem as fantasias do trânsito orgânico, sem a claridade que discerne
entre as reais e as falaciosas metas da vida.
(continua)
Fonte: PLENITUDE
Divaldo Pereira
Franco/Joanna de Ângelis
imagem: google
Um comentário:
Devemos permanecer no "caminho do meio", nem oito nem oitenta, sempre "vigiando e orando".
Denise, beijos!
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