Christopher Catrambone, um milionário empresário
americano dono de uma companhia que oferece seguros em zonas de conflitos,
criou sua própria fundação de resgate de imigrantes. Desde 2014 sai com sua família pelo Mediterrâneo
para salvar estrangeiros que se arriscam a atravessar o mar para chegar à
Europa. Sem receio de investir toda fortuna e confiante de que se algum dia seu
arrependimento em ter gasto todo dinheiro e tempo nas operações de resgate dos
imigrantes.
A tradição da filantropia americana vem de longe.
Cremos que Andrew Carnegie seja seu maior ícone e, de certo modo, definidor
conceitual. Imigrante pobre, Carnegie fez fortuna na siderurgia americana, na
segunda metade do século XIX. Em 1901, aos 66 anos, vendeu suas indústrias ao
banqueiro J.P. Morgan e tornou-se o maior filantropo americano. Uma de suas
tantas proezas, não certamente a maior, foi construir mais de 3 mil bibliotecas
nos Estados Unidos. Em 1889, escreveu o artigo “The Gospel of Weath”,
defendendo que os rios deveriam viver com comedimento e tirar da cabeça a ideia
de legar sua fortuna aos filhos. Melhor seria doar o dinheiro para alguma
causa, ou várias delas, à sua escolha, ainda em vida.
Em 2009 Bill Gates lançou, junto com Warren Buffett,
o mais impressionante movimento de incentivo à filantropia já visto: The Giving
Pledge. A campanha tem mais de 120 signatários para participar, basta ser um
bilionário e assinar uma carta prometendo doar, em vida, mais da metade de sua
fortuna a projetos humanitários. Para boa parte dessas pessoas, doar 50% é
pouco. Larry Elisson, criador da Oracle, comprometeu-se em doar 95% de sua
fortuna, hoje avaliada em US$ 56 bilhões. O próprio Buffett foi além: vai doar
99%. Como bem observou o filósofo alemão Peter Sloterdijk, parece que, ao
contrário do que acreditávamos no século XX, não são os pobres, mas os ricos
que mudarão o mundo.
Sloterdijk obviamente não conhece bem o brasil. Aqui
na suposta “Pátria do Evangelho” a grandeza d’alma dos milionários em prol do
altruísmo é pura miragem, ressalvando-se as infrequentes exceções. Nos Estados
Unidos, o valor das doações individuais à filantropia chega a US$ 330 bilhões
por ano. No Brasil, os números são imprecisos, mas estima-se que o montante não
passa de US$ 6 bilhões por ano. Apenas 3% do financiamento a nossas ONGs vem de
doações individuais, contra mais de 70% no caso americano. Há, segundo a
tradicional lista da revista Forbes, 54 bilionários no Brasil. Nenhum aderiu,
até o momento, ao movimento da Giving Pledge.
Explicações não faltam para essa disparidade. Há quem
goste de debitar a mesquinhez dos endinheirados brasileiros na conta de nossa
“formação cultural”. Por essa tese, estaríamos atados a nossas raízes ibéricas,
sempre esperando pelas esmolas do Estado, indispostos a buscar formas de
cooperação entre os cidadãos para construir escolas, museus e bibliotecas, ou
simplesmente para consertar os brinquedos e plantar flores na praça do bairro.
É possível que haja alguma verdade nisso. O rei Dom João III, lá por volta de
1530, dividiu o país em capitanias hereditárias e as repartiu entre fidalgos e
amigos da corte portuguesa. Fazer o quê? Enquanto isso, os peregrinos do
Mayflower desembarcaram nas costas da Nova Inglaterra (EUA), movidos pela fé e
pelo amor ao trabalho, para construir um novo país.
(continua)
Jorge Hessen
Fonte: Jornal
Espiritismo Estudado – nov/2015
imagem: google
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