Deficiências
na tentativa de diálogo:
1-
Transformamos a conversa em monólogo.
Uma boa conversa segue a sabedoria do corpo: dois ouvidos, uma boca e uma
cabeça, tendo uma base – o coração. Simbolicamente, devemos ouvir mais do que
falar; sempre usar a cabeça, ou seja, a reflexão, a ponderação, o ajuizamento;
fazer isso a partir do coração, consagrando, assim, a integração de tudo o que
falamos em bases amorosas.
2-
Só tentamos dizer as coisas que sentimos na hora
das brigas.
Devemos exercitar o entendimento em cima da crise; todavia, será de boa
lembrança reservar tempo à conversação nos momentos de armistício, para
tratarmos dos assuntos conflituosos que suscitam as arengas. Falar o que se
deve de cabeça quente e conseguindo paz é muito difícil, mas dissolver o nó do
desentendimento com a cabeça fria é mais factível e prudente, por ser mais
sábio.
3-
Atacamos, transformando a fala em instrumento de
esgrima.
A partir das idéias que cada um apresenta pela conversação, o casal
constrói um entendimento novo, superando os velhos argumentos que lhe serviram
de ponto de partida.
Quando alguém vence no diálogo, o casal perde, porque o diálogo não deve
ser uma disputa; antes, a busca de novas possibilidades de encontro.
4-
Achamos que sempre detemos a verdade.
O parceiro que se encastela na sua verdade como a única, em detrimento da
do outro, esquece que, no diálogo, a verdade é sempre algo a ser descoberto,
elaborado a dois, com base nas antigas verdades de cada um. O ponto de vista é
a janela pela qual cada um enxerga o mundo, constituindo a sua verdade naquele
momento.
Sempre, entre duas pessoas, há pelo menos quatro verdades: a de cada uma
delas, a construída pelo casal e a Verdade. As três primeiras são verdades
relativas; só a última é absoluta.
5-
Reprimimos inoportunamente nosso verbo, ante a
fala do outro, em falsa atitude de resignação e obediência.
Segundo Kardec, a obediência e a resignação são duas virtudes que operam
em nível de razão e sentimento, respectivamente, não sendo, portanto, nocivas à
comunicação do casal; antes, são necessárias à construção do diálogo,
calculando-se a dose certa de silêncio e fala, a benefício da dupla em
interação.
Quando sempre represamos a nossa expressão vocal, apenas adiamos sua
inevitável manifestação, que surge, muitas vezes, na hora errada, no lugar
inapropriado e num tom indesejável.
6-
Em vez de falar, gritamos, como se o outro
sofresse de surdez sensorial.
O grito é uma das formas de defesa imatura de alguém que não sustenta o
enfrentamento saudável de idéias, raciocínios e argumentos diferentes; gritar é
uma das formas de silenciar o outro, ou de impor suas razões pela força... no
grito.
7-
Vomitamos o que represamos, indebitamente, ao
longo de meses ou anos.
É melhor esvaziar costumeiramente as demandas internas, evitando o
acúmulo sempre perigoso de transbordar em ocasião inadequada e com atitude
desproporcional. O hábito de conversar sempre, cotidianamente, evita explosões
desnecessárias e nocivas.
8-
Saímos do recinto como crianças desapontadas,
quando deveríamos apresentar nosso arrazoado.
Acostumamo-nos a ter nossos caprichos satisfeitos, quando crianças, e daí
reagimos emocionalmente de maneira imatura diante de alguém que contrarie e
recuse nossas opiniões pessoais.
9-
Sempre queremos ter razão, e para isso às vezes
manipulamos as palavras, a fim de vencermos o outro no debate transformado em
competição.
Sofismar representa fragilidade moral com que se pretende compensar a
nossa falta de argumentos. Um pouco de humildade faz reconhecer que a opinião
ou ação do outro é mais justa, devendo ser mais bem considerada para a
felicidade do casal.
10-
Não terminamos um ciclo de debates, ou seja, não
conseguimos ir até o fim de uma conversação. Sempre fugimos.
É comum interrompermos a discussão de um assunto por motivos variados,
deixando, “ad aeternum”, aquilo que está em pauta, pela metade, aos pedaços,
retardando ou evitando encontros genuínos.
Um diálogo fecundo tem começo, meio e fim, ainda eu não se conclua definitivamente
o assunto, mas amplia-se a análise com o aprofundamento da compreensão. Mais
tarde, cada parceiro pode refletir “de per si” sobre os conteúdos produzidos. E
assim, quando ambos retomam o tema, já amadureceram em relação ao assunto
discutido.
Por
todo o mencionado, e saudável para a vida comum a cultura do adestramento na
arte do diálogo a dois, favorecendo a troca de experiência no cotidiano. E
auxiliando, também, no equacionamento de questões espinhosas que surjam
exigindo destreza conjugal, de tal modo que não precisemos chamar uma ou duas
testemunhas, tampouco a “igreja”, o grupo.
Fonte: CASAMENTO: A ARTE DO REENCONTRO – ALBERTO ALMEIDA
imagem: google
Um comentário:
Pois é amiga Denise, o casamento prospera quando os envolvidos agem com sabedoria, nem sei porque estou dizendo isso, talvez para dar testemunho comprobatório sobre a exposição de motivos do post, o qual ilustra o tema com riqueza de verdades
Quando o assunto é casamento, lembro-me de um amigo do tempo da juventude, que dizia que não casaria porque casamento significava castração, anulação do indivíduo para o surgimento do par...
Naquel tempo , eu até comungava um pouco com a ideia, e esperei um tempo solteiro, casando-me após os trinta anos. Hoje, casado há de trinta anos, convivendo esse tempo com a mesma pessoa, aprendi coisas, as quais não aprendeira sozinho, e acho que ao contrário da tese da anulação, no casamento há a parceria, há a soma de fatores positivos, há o enriquecimento geral das ideias, além da contribuição para a melhoria espiritual.
Peço excusas por ter-me extendido. Um abraço daqui do sul do Brasil. Que os espíritos amigos proporcionem-te paz e bençãos.
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