Na busca da felicidade são
inevitáveis os estágios de sofrimento e de prazer, por constituírem fenômenos
da experiência humana, da realização do self
desidentificando-se do ego. O lamentável, nessa ocorrência, tem lugar
com o surgimento e instalação do tormentoso sentimento de culpa, que nega
inconscientemente ao indivíduo o direito de fruir a felicidade, ou mesmo o
prazer, sem o estigma do sofrimento. Para fugir-lhe à imposição, busca-se o
oceano do gozo, afogando ali os ideais mais altos na denominada opção
realista, que entretanto consome os sentimentos e perturba as emoções,
saturando-os ou desbordando-os, rebaixando-os ao nível das sensações.
Há um mecanismo castrador impeditivo
da experiência do prazer, que podemos considerar como sendo inibição. Além
dele, a consciência de culpa conspira contra a realização da felicidade.
Tão arraigada se encontra no ser
humano, que toda vez que as
circunstâncias propiciam a presença do prazer — a pessoa crê não merecer
desfrutá-lo — ou da felicidade — o indivíduo receia vivê-la, não se permitindo
experienciá-la — surge o temor de que algo mau sucederá.
Para desarticular esse mecanismo
conflitador, torna-se necessária uma tomada de consciência de si mesmo,
procurando descobrir a fonte geradora da inibição, para a psicoterapia
libertadora conveniente, que pode ter origem na conduta infantil — educação
coercitiva, meio social asfixiante, família dominadora — ou proceder de
reencarnações passadas — uso incorreto do livre-arbítrio, conduta irregular,
exagero de paixões. Tal inibição, associada ao sentimento de culpa, castiga o ser, impedindo-o de fruir
momentos de recreação, de ócio, levando-o a tormentos quando não se encontra
produzindo algo concreto, o que se lhe torna uma necessidade compulsiva,
portanto patológica.
Certamente não se deve viver para a
ociosidade dourada, tampouco, exclusivamente, para a atividade estressante. Há
todo um rico arsenal desportivo, um infinito painel de belezas naturais
convidativas, um sem-número de estesias mediante a leitura, a arte, a
conversação, um abençoado campo de idealismo através da prece, da meditação,
do controle da mente, que se constituem tônicos revigorantes para as ações geradoras
da felicidade e dos quais todos podem e devem dispor quanto aprouver. Esses
interregnos nas atividades, enriquecidos de prazeres mais amplos, são estímulos
para a criatividade, a libertação de cargas psicológicas compressivas, a
auto-realização.
Essa busca, do self profundo, deve
superar e mesmo arrebentar as resistências inibidoras, o sentimento de culpa,
cujas energias serão canalizadas para a conquista da felicidade.
O SER CONSCIENTE - Divaldo Pereira Franco/Joanna de
Ângelis
2 comentários:
um bom domingo
forte abraço
elisa
Certamente a felicidade só se encontra após uma caminhada de sofrimento - "ad augusta per angusta" já lembra o provérbio - mas não há uma linearidade obrigatória, não temos que "continuar sofrendo até...", não, isto é opcional.
A boa caminhada é justamente ir transformando o sofrimento em felicidade, não se tornar masoquista e dizer "tá amargo mas é queijo", quando se está comendo sabão, mas conscientizar-se que se está no caminho.
E o ruim não é caminhar, mas ficar parado. Água estagnada é a que causa patologias.
Beijos.
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