Na fase dos sentidos, o gozo se
transforma depois de fruido em insatisfação, ansiedade ou depressão; no
período dos sentimentos, o prazer derrapa em paixões possessivas, que dão
margem a tragédias e angústias logo estejam saciados; no ciclo idealista,
religioso, transcendental, a busca transpessoal fomenta a autodescoberta, a
auto-realização, a auto-doação, em serviços desinteressados de libertação do
ego e participação na vida, individual como coletiva, dos seres, da vida, da
Terra.
Essa busca é diferente da ambição de
ser virtuoso, na qual mascara o ego e apresenta-o, entregando-se a macerações
que ocultam gozos patológicos ou a narcisismos, em mecanismos de evasão da
realidade para planos egóicos, masoquistas-exibicionistas,
com aparência de humildade e renúncia. Quando reais, essas expressões de
virtude são ignoradas pelo próprio candidato em quem são naturais, sem os
condimentos do prazer embutidos na fuga psicológica que as falseiam.
Para que a identificação do
indivíduo com a sua busca de serviço seja legítima, há uma perfeita união com o
self, de tal forma que não
haverá diferença entre dar e receber, amar e ser amado, viver e morrer...
Apressadamente, há quem afirme que a
felicidade tem a ver com o princípio freudiano do prazer, e que através
desse comportamento se poderiam satisfazer
as necessidades e evitar a dor. Não obstante, a dor não pode ser
evitada. Considerá-la como um fenômeno natural do processo de evolução,
encarando-a como instrumento de promoção do ser em relação à vida, eis uma
forma eficaz de lograr a alegria, superando os seus mecanismos desgastantes e
as ocorrências degenerativas, que não compreendidos e aceitos com equilíbrio
conduzem à infelicidade.
Da mesma maneira, a felicidade não
se radica na satisfação de qualquer desejo do ego, porquanto, após
satisfazê-lo, manifesta-se com veemência, gerando ansiedade e desconforto.
Surge então a compreensão transpessoal
da existência, e o desejo egóico cede
lugar à aspiração espiritual, a uma busca mais profunda, desidentificada com
os condicionamentos passados com pessoas e coisas. Provavelmente, nessa busca
surgirão o sofrimento, o desconforto, que irão cedendo lugar à harmonia e ao
bem-estar, a medida que se alcancem as bases objetivadas da realização plenificadora.
Lentamente desaparece a frustração da vida cotidiana, alargando-se o campo do
idealismo e da identificação com a deidade, mediante afirmação religiosa ou,
com o eu profundo, em manifestação psicológica. A princípio, o caminho da
busca se afigura escuro qual um túnel, cuja claridade está distante, mas que
se torna maior quanto mais se lhe acerca da saída. Essa busca, qual ocorre com
qualquer outra, é realizada com a mente, que deve solucionar as dificuldades,
à proporção que se apresentem, eliminando o sofrimento perturbador, tratando-se
de um contínuo e lúcido trabalho interno.
(continua)
O SER CONSCIENTE - Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis
2 comentários:
Ame a vida e os bons amigos, pois a vida é curta e os bons amigos são poucos.
Te desejo um ótimo fim de semana beijinhos.
Pois amiga Denise, infelizmente, a mídia, o sistema de educação, o aparelho propagador dos bens de consumo, incitam o indivíduo ao desfrute do prazer a qualquer custo.
Um abraço. Tenhas um ótimo fim de semana, envolto de paz.
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