"Querendo ser
doutores da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam." -
Paulo. (I TIMÓTEO, 1:7.)
Em todos os lugares
surgem multidões que abusam da palavra.
Avivam-se discussões
destrutivas, na esfera da ciência, da política, da filosofia, da religião.
Todavia, não somente nesses setores da atividade intelectual se manifestam
semelhantes desequilíbrios.
A sociedade comum, em
quase todo o mundo, é campo de batalha, nesse particular, em vista da
condenável influência dos que se impõem por doutores em informações descabidas.
Pretensiosas autoridades nos pareceres gratuitos, espalham a perturbação geral,
adiam realizações edificantes, destroem grande parte dos germens do bem,
envenenam fontes de generosidade e fé e, sobretudo, alterando as correntes do
progresso, convertem os santuários domésticos em trincheiras da hostilidade
cordial.
São esses envenenadores
inconscientes que difundem a desarmonia, não entendendo o que afirmam.
Quem diz, porém, alguma
coisa está semeando algo no solo da vida, e quem determina isto ou aquilo está
consolidando a semeadura.
Muitos espíritos nobres
são cultivadores das árvores da verdade, do bem e da luz; entretanto, em toda
parte movimentam-se também os semeadores do escalracho da ignorância, dos cardos
da calúnia, dos espinhos da maledicência. Através deles opera-se a perturbação
e o estacionamento. Abusam do verbo, mas pagam a leviandade a dobrado preço,
porquanto, embora desejem ser doutores da lei e por mais intentem confundir-lhe
os parágrafos e ainda que dilatem a própria insensatez por muito tempo, mais se
aproximam dos resultados de suas ações, no circulo das quais, essa mesma lei
lhes impõe as realidades da vida eterna, através da desilusão, do sofrimento e
da morte.
Fonte: Vinha de Luz –
Chico Xavier/Emmanuel
Comentário Haroldo Dutra Dias:
Nos chama a atenção o conceito de entendimento, explicado por Emmanuel.
Muitas vezes acreditamos que entendimento se resume a simples apreensão
intelectual das coisas. Todavia o verdadeiro entendimento tem em vista a
aplicação serena para o bem comum. Portanto, lembrando-nos do crivo de
Sócrates, dividido em três partes, quando nos diz que devemos dizer apenas
aquilo que é verdadeiro, bom e útil. Concluímos que o poder da palavra,
enquanto potencial do espírito, deve ser utilizado sempre a favor da verdade,
da bondade e de forma útil aos nossos irmãos de jornada espiritual. De que vale
utilizar-se do verbo para ferir? De que vale tomar posse da verdade para
humilhar e para semear a confusão e a guerra? De que vale espalhar o
desrespeito, a crítica desconstrutiva, desestimulando as florações do bem, que
muitas vezes estão começando? Cabe-nos ser responsáveis pelo dom primoroso da
palavra, recurso divino em nossas mãos. A palavra pode curar, apaziguar,
asserenar, confortar, esclarecer, instruir, e nesse sentido deve ser manejada
por todos aqueles que além de conhecerem, se sentem responsáveis pelo
conhecimento e pelo bem estar da comunidade onde vive. Entendimento verdadeiro
é aquele que se coloca a serviço do bem de todos.
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