Usando os conhecidos mecanismos de
evasão da responsabilidade e sentindo-se fragilizado, o indivíduo busca a
auto-realização, fixando-se em valores externos como forma de destaque no grupo
social, ignorando a sua
realidade profunda.
Sentimentos egocêntricos passam a
aturdi-lo e, inconscientemente, acredita-se merecedor de tudo em primeiro
lugar, com desconsideração pelos demais. Quando tal não ocorre, surgem-lhe as
marcas predominantes do egoísmo e passa a reunir recursos que amontoa
satisfazendo o ego, mesmo quando atinge os picos do poder ganancioso.
A imaturidade asselvaja-lhe e
obnubila-lhe a razão, que permanece asfixiada pelos tormentos do ter, enlouquecendo, a pouco e pouco,
a sua vítima, cada vez mais ansiosa por novos haveres.
Ninguém vive bem sem a segurança de
si mesmo. Quando esta não decorre do auto-encontro libertador, é buscada
através dos meios externos, que envolvem o seu possuidor em preocupações de
aumentá-las, em medos de perdê-las, passando à angústia de mais assegurar-se
da sua retenção. Como efeito, vai traído pela concupiscência da posse, tornando-se possuído pelo objeto que supõe possuir.
Desperta-se-lhe em grau crescente a
avareza que o amarfanha, e, depois da alegria fugaz da posse material,
transfere-se para a ilusão da dominação arbitrária de outras vidas, de outras
pessoas, acreditando-se capaz de detê-las, subjugá-las como conquistas a
mais.
Autodesprezando-se, graças à
insegurança íntima, não se considera merecedor de afetos, supondo que, quantos
se lhe acerquem, estão interessados no que ele tem, e jamais no que é.
Porque se sente sem possibilidade de
amar, embora lhe irrompam episódios de afetividade, que converte em paixões
de gozo imediato, não crê que pode ser amado com desinteresse pelos seus
haveres.
Assim não sucedendo e vindo a
consorciar-se, ele o faz mediante cláusulas de separação de bens, bens que lhe são alicerces de segurança no
inconsciente.
Com a percepção embotada, mede os
fenômenos existenciais com os instrumentos da atividade contábil, considerando
triunfadores somente os que dispõem de contas bancárias volumosas, latifúndios
largos e semoventes aos milhares...
A sua louca ambição torna-o
misantropo, detendo-o no pórtico das grandes realizações, sem a coragem moral
para atravessá-lo, amesquinhando-o. Se vence o medo de doar algo e o realiza,
necessita de ter o ego recompensado pela gratidão, passando à condição de
benfeitor, quando tudo no mundo, com o seu caráter de transitoriedade, faz, das
criaturas aquinhoadas, mordomos que prestarão contas, ou servidores
encarregados de bem aplicar, qual o ensinamento de Jesus através da parábola dos talentos no Evangelho.
O bom
aplicador, além dos juros que recebe, experimenta o júbilo da realização, a
imensa alegria do serviço, exteriorizada no bem-estar que proporciona.
(continua)
O SER CONSCIENTE - Divaldo Pereira Franco/Joanna de
Ângelis
Um comentário:
Sempre tive o indispensável, mas, quase nunca o supérfluo veio abarrotar minhas "burras".
Tenho de agradecer à espiritualidade superior por isto, que me conservou atento e consciente dos verdadeiros valores na vida física.
Beijos.
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