Irrealizado, porque fugindo do enfrentamento com o seu
eu, transfere-se de aspirações e cuidados a cada novidade que depara pelo
caminho. Não dispõe de decisão para desmascarar o ego, por temer petrificar-se
de horror.
Obviamente, esse espelho representa a consciência lúcida,
que descobre e separa objetivamente o que é real daquilo que apenas parece.
Nesse sentido, o ego que vive e reincide nos conteúdos inconscientes, necessita
de conscientizar-se, desidentificando-se dos seus resíduos emergentes.
O homem vive na área das percepções concretas e, ao mesmo
tempo, das abstratas.
A cultura da arte faz que ele se porte, ora como observador,
ora como observado e ainda o observador que se observa, a fim de poder
transformar os complexos ou conflitos inconscientes em conhecimentos que possa
conduzir, senhor da sua realidade, dos seus atos.
Sua meta é poder sair da agitação, na qual se desgoverna,
para observar-se, a distância, evitando o sofrimento macerador.
A este ato chamaremos a separação necessária entre o sujeito
e o objeto, através da qual se observam os acontecimentos sem os sofrer de
forma dilacerante, modificando o estado de ânimo angustiante para uma simples
expressão do conhecimento, mediante a transferência da realidade que jaz no
espírito para o exterior das formas e da emoção.
A reflexão constitui um admirável instrumento para o logro,
apoiando-se na cultura e na realização artística, social, solidária, que
desvela os mananciais de sentimento e de consciência humanos.
Jogado em um mundo exterior agressivo, no qual predominam
a luta pela sobrevivência do corpo e a manutenção do status, o homem acumula conteúdos psíquicos não descartáveis
nem digeríveis, avançando, apressado, para o stress, as neuroses, as alienações.
Acumula coisas e valores que não pode usar e teme perder,
ampliando o campo do querer, mais pelo receio de possuir de forma
insuficiente, sem dar-se conta da necessidade de viver bem consigo mesmo, com a
família e os amigos, participando das maravilhosas concessões da vida que lhe estão
ao alcance.
Comedir-se, agir com sensatez e tranqüilidade, confiar
nos próprios valores e nas possibilidades latentes são regras que vão ficando
esquecidas, a prejuízo da harmonia pessoal dos indivíduos.
Os interesses competitivos postos em jogo, a aflição por
vencer os outros, o sobrepor-se às demais pessoas desarticularam as propostas
da vitória do homem sobre si mesmo, da sua realização interior, da sua harmonia
diante dos problemas que enfrenta. As linhas do comportamento alteradas, induzindo
ao exterior, devem agora ser revisadas, sugerindo a conduta para o conhecimento
dos valores reais, a redescoberta do sentido ético da existência, a busca da
sua imortalidade.
Quando o homem moderno passar a considerar a própria
imortalidade em face da experiência fugaz do soma, empreenderá a viagem
plenificadora de trabalhar pelos projetos duradouros em detrimento das ilusões
temporárias, observando o futuro e vivendo-o desde já, empenhado no programa da
sua conscientização espiritual. Nele se insculpirá , então, o modelo da
realização em um ser integral, destituído do medo da vida e da morte, da sombra
e da luz, do transitório e do permanente, da aparência e da realidade.
Do livro: O Homem Integral – Divaldo Pereira Franco/Joanna Di Ângelis
Nenhum comentário:
Postar um comentário