Significativa parcela da comunidade planetária
desconhece a verdadeira causa e o valor do processo doloroso no intercâmbio
habitual com a criatura humana. Quando avaliada “a vôo de pássaro”, a dor é
tida na conta de tormento indesejável capaz de suscitar o sofrimento, as
lágrimas e o pavor das criaturas desesperadas perante as aflições terrenas.
Todos repudiam a dor, desejam afastá-la por qualquer meio, muito embora, apenas
a vontade, nem sempre seja o recurso suficiente para impedir a visita daquela
que se esconde sob o manto de duas variantes implacáveis: a dor física e a dor
moral. Ao contrário do que imaginam os desavisados, a dor não se trata de um
castigo imposto por Deus ou de uma condição aleatória que nos atinge sem um
motivo aparente. De acordo com os princípios que norteiam a doutrina espírita,
o acaso e o determinismo absoluto inexistem, de maneira que, ninguém deveria
atribuir a tais fatores a causa das desditas atrozes que, por vezes, fustigam a
alma humana. Diante do fato impõe-se o conhecimento de causa, maneira correta
de se nortear os passos na desafiadora caminhada ao longo da existência
planetária. Ao classificar o orbe terreno como morada de provações e expiações,
Allan Kardec nos alerta para o atual padrão evolutivo da humanidade, na medida
em que ressalta a prevalência do mal sobre o bem. Ora, isto serve como um
chamamento capaz de nos predispor ao esforço da reforma íntima. Então,
conscientizados de nossas atuais restrições evolutiva, não podemos falar de dor
sem fazer referência à questão da responsabilidade individual posta em prática
no decorrer das reencarnações sucessivas. A tendência da maioria é culpar a má
sorte, como se as aflições corriqueiras não respondessem aos mecanismos sutis
da mente assolada por dívidas morais e sentimentos de culpa. Por isso,
costumamos afirmar que as diretrizes espíritas servem para aclarar a nossa
percepção interior, facilitando-nos a reflexão a respeito das próprias
vivências desarmônicas ensaiadas em todas as épocas. O mal que infligimos aos
semelhantes não se dilui na esteira dos tempos, assim como a fumaça se dissipa
no ar atmosférico. A memória espiritual retém em seus refolhos os atentados
cometidos intencionalmente contra a harmonia cósmica. Todavia, o remorso
resultante assemelha-se a verdadeiro corpo estranho passível de atormentar o
equilíbrio desejável do nosso campo mental. A consciência profunda, a cenoura
inflexível de nossas atitudes infelizes, em determinado instante, nos impele à
drenagem saneadora daquilo que nos infelicita. Invariavelmente tal escoamento
se processa por meio das múltiplas formas de sofrimento e aflição. A dor
sinalizada reflete a quantidade de desarmonia interna de que é portador. Quanto
maior a sua intensidade, maior a pendência a ser resolvida da melhor maneira no
transcorrer do jornadear terreno. Portanto, em relação à dor, o problema é de
ordem individual, pois a alma, na condição de instrumento refletivo da
perfeição divina não apresenta condições de albergar em sua intimidade, por
tempo dilatado, aquilo que não contribua para o engrandecimento progressivo de
si própria. O livre arbítrio constrói diariamente o nosso destino, alternando
harmonia e felicidade ou sofrimento e tristeza, tudo na dependência do
comportamento com o qual marcamos as nossas existências. O espírito André Luiz,
o querido mentor residente na metrópole espiritual “Nosso Lar”, nos propicia
significativas informações ao discorrer sobre os três tipos de dor
experimentados pelo ser encarnado.
(continua)
Vitor Ronaldo Costa
Fonte: Jornal
Espiritismo Estudado – março/2013
2 comentários:
Denise, que preciosidade esta leitura! Como é importante compreendermos a dor, a sua real função e o porquê de sua insistente presença em nossas vidas!! Aguardo a continuação desta maravilhosa reflexão!
Tenha um final de semana iluminado!!
Beijos!!♥
O que assombra é a simplicidade das explicações:
"O mal que infligimos aos semelhantes não se dilui na esteira
dos tempos, assim como a fumaça se dissipa no ar atmosférico".
Porque demoramos tanto a entender algo tão rasteiro?
Por isso a dor nos acompanha a tanto tempo, é o único
"chamamento capaz de nos predispor ao esforço da reforma íntima".
Sem a dor nada vai pra frente.
Beijos.
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